O cheiro do tempero já tomava conta da casa antes mesmo do sol se pôr. Mamãe mexia as panelas com paciência, enquanto na varanda o som das conversas se misturava ao aroma da lenha queimando no fogão. Era tempo de preparação para o Natal, e tudo começava ali, na cozinha, onde a festa ganhava vida muito antes da noite chegar. 

Do lado de fora, papai cuidava dos preparativos mais rústicos. O porco havia sido escolhido, a carne separada, e o frango caipira já estava pronto para ser temperado como ela gostava. Na mesa grande, havia farinha, cheiro-verde e alho, tudo alinhado como parte de um ritual que se repetia ano após ano. 

 

Enquanto a comida tomava forma, as crianças corriam pelo quintal, rindo e pegando gravetos para acender mais a fogueira. De vez em quando, uma delas espiava a cozinha, tentando descobrir qual seria o primeiro prato a sair fumegante da panela. 

 

Quando a noite caía, a família já estava reunida. O cheiro do assado era irresistível, o frango dourado ocupava o centro da mesa e, ao redor, as mãos se juntavam em oração. O Natal não era feito apenas de presentes—era feito de aconchego, de tradição e dos sabores que a gente levava no coração para o resto da vida. 

E assim, entre risos, abraços e o calor do fogão à lenha, mais um Natal se tornava uma lembrança preciosa. Mas não apenas um instante gravado no tempo—era um pedaço da história da família, um ritual repetido e vivido ano após ano, que ecoaria nas gerações futuras. O cheiro do tempero, o estalar da lenha, as vozes felizes ao redor da mesa... Nada disso desapareceria. Pois, enquanto houvesse alguém para recordar, o Natal no fogão à lenha jamais deixaria de existir.

Livro: FRAGMENTOS DO PASSADO

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