NÃO ME CALE

Não me cale

Deixem minha pena correr livremente

Escorrer emoções, sensações, paixões

Até mesmo as decepções

Não me cale

Não me cale

Por eu ser Mulher num mundo machista

Não me cale

Por minha pele ser parda, num matiz de misturas bem brasileiras

De índios, negros, amarelos e brancos

Não me cale

Por minha idade já ser bem avançada

Para muitos ultrapassada, o corpo surrado e a pele enrugada

Não me cale

Se meus versos não são rebuscados

Dentro das normas, estilizadas, ensaiadas

Não me cale

O homem que vive ao meu lado

Fui tirada de sua costela para andar ao seu lado

Não abaixo, nem acima

Não me cale

Os sistemas opressores, com normas, preconceitos, partidos políticos, idealismos hipócritas que querem impor o que devo acreditar ou não

Não me cale

Nem mesmo as ideologias de religiões

Dizendo que é pecado até minhas emoções

Não me cale

Meus medos, minhas decepções sempre me tentando a fazer comparações

Ou dizendo que não sou boa o suficiente para entrar nas competições

Não me cale

Os que tem inveja, que criticam o que faço, se nem isso é capaz de fazer

Os que ficam por traz desejando minha derrota ou minha desistência, para falarem o famoso:  Eu te disse. Larga disso. Desista.

Não me cale

A vista cansada, a memória que aos poucos se apaga

Não me cale

O tremor de minhas mãos

Nem o terror da decrepitude e da solidão

Não me cale

Os sonhos, que inda voam em asas de cera rumo ao sol das ilusões

Não me cale

A morte, com sua foice injusta ou a mais justa das sentenças do homem

Que quebra a soberba, a imponência, a arrogância, mas não cala a boca daquele que ousou sonhar e seus sonhos registrar

Enfim, vou repetir

Não me cale oh morte

Pois meus versos já eternizei

Para falarem por mim, quando eu mais não estiver por aqui,

Aqui está registrado para todos que quiserem ouvir.