NÃO HÁ NO MUNDO DINHEIRO QUE COMPRE PAIS

          João, nasceu no interior de Moçambique, numa família pobre e bastante humilde. Primogénito entre sete irmãos, João teve enormes dificuldades de  progredir com os estudos quando concluiu o ensino primário. Formou-se no exterior graças as bolsas de estudos que o governo moçambicano oferecia aos estudantes nacionais, quando o país acabava-se de se libertar do colonialista português. 
          Depois da sua formação, João volta ao solo pátrio. Reside e trabalha na cidade. Seus pais , irmãos e a familiares tinham enorme orgulho de tê-lo  como um filho, irmão e familiar. Maior orgulho era para avos John e Tsai, que quando saiam do interior com sacos de farinha de milho, batata-doce, peixe fumado e maçaroca para visitar o seu celebre filho na cidade, gabavam entre os populares da aldeia que iam visitar o jovem  que estudara muito na terra dos brancos, acabou de ler todos os livros por isso  podia  trabalhar naquela terra miserável. 
         João não retribuía com a mesma moeda o amor e a admiração que recebia dos seus parentes. O seu maior sonho era livrar-se deles por que eram velhos demais , pobres e não sabiam falar a língua portuguesa. Quando os amigos apareciam para conversar, João dizia os pais para aguarda-lo na cozinha ou no armazém.
        Certo dia, João organizou uma grande festa e convidou os  seus amigos para juntos celebrarem o seu aniversário. Naquele dia, a semelhança  dos outros dias , sem um prévio aviso ,  os pais deslocaram-se do campo para visitar o filho. Quando lá chegaram , os pais pediram aos protocolos que queriam falar com o filho e estes desconhecendo os velhos lhes impediram de entrar na festa e uma grande confusão surgiu.
       Quando João saiu da mesa para procurar saber o que acontecia, vendo que eram os pais e tendo vergonha de apresenta-los aos amigos, ele disse em voz baixa:
       --- É um casal de empregados do meu falecido pai.
        De seguida deslocou-se ao encontro dos pais , não apresentando-os aos protocolos e a nenhuma pessoa que testemunhara o alvoroço, ordenou aos protocolos para que providenciassem duas cadeiras e  comida para os dois anciões na porta dos fundos e a festa continuou.
        Os pais ficaram muito chocados com as palavras do filho e negaram de servir a comida e esperaram de ver a festa terminada para terem uma conversa seria com o filho pois já passavam dias que notavam um tratamento esquisito naquela casa. 
        No dia seguinte, depois duma longa discussão  entre ele e os  pais, João disse algo que nenhum pai esperaria ouvir:.
        --- Já estou cansados de vos ter como pais pois só me envergonham. Vão para a vossa casa, façam cálculos de todas as despesas que gastaram para mim desde do dia que me conceberam até hoje e eu vos pagarei e estarei definitivamente livre  de vocês. 
         Lágrima caíram de olhos secos de dois velhos que se viram totalmente rejeitados pelo filho.
      --- Não meu filho, não existe no mundo dinheiro que possa pagar a um pai , uma mãe ou a ambos.--- disse o velho John , lacrimejando.
       O João estava decidido e não queria mudar a sua decisão. Os pais voltaram para casa e uma semana depois voltaram para dizer o valor que João deveria pagar.
      --- Senhor João, a conta foi difícil e longa mas temos um total aproximado.--- disse o pai.
      --- Se foi díficil mas é possível pagá-la. São quantos meticais?--- Procurou saber o João. 
      --- Nos dê apenas as suas duas mãos numa bandeja.--- disse o pai.
      O João ficou boquiaberta e disse que seria impossível da-los as duas mãos e reconheceu que não havia dinheiro no mundo que pague os pais por tudo que eles fizeram pelos filhos mas era tarde demais porque eles já tinham  se retirando da casa lamentando. 
      Uma semana depois, o João teve lepra ,perdeu emprego, todos os amigos o desampararam e a esposa sumiu de casa levando consigo todos os seus bens  e dinheiro para uma parte incerta. João morreu amaldiçoado e desamparado.
                                                                                                                                                                                                              Literatura JC, 05.12.18