Querer buscar no outro aquele que lhe completa. Essa tem sido uma busca ao longo dos séculos é a tão famosa metade da laranja, ou ainda mais literal a cara metade. Mas para falar do significado da cara metade necessitamos reportar a mitologia grega:

No início, a raça dos homens não era como hoje, não havia apenas dois sexos. Havia antes três seres: Andros, Gynos e Androgynos, sendo Andros uma entidade masculina, Gynos feminina e Androgynos masculina e feminina. Todas essas criaturas eram compostas de oito membros e duas cabeças, ambas masculinas, femininas ou metade masculina, metade feminina, no caso de Androgynos. Seus órgãos sexuais também seguiam o mesmo padrão: dois masculinos, ou dois femininos ou um masculino e um feminino.

Zeus declarou guerra ao seu pai Cronos e aos demais Titãs com a ajuda de Gaia. E durante cem anos nenhum dos dois lados chegava ao triunfo. Gaia foi até Zeus e prometeu que ele venceria e se tornaria rei do universo se descesse ao Tártaro e libertasse os Ciclopes e os Hecatônquiros filhos de Gaia.

Ouvindo os conselhos de Gaia, Zeus venceu Cronos, com a ajuda dos filhos libertos da Terra e se tornou o novo soberano do Universo. Todavia, Zeus realizou um acordo com os Hecatônquiros para que estes vigiassem os Titãs, que Zeus voltou a aprisionar no fundo do Tártaro. Gaia então se revoltou com a traição de Zeus e como vingança ela pariu incontáveis Andróginos, seres com quatro pernas e quatro braços que se ligavam por meio da coluna vertebral terminado em duas cabeças, além de possuir os órgãos genitais femininos e masculinos.

Os Andróginos surgiam do chão em todos os quadrantes da Terra, sua força era extraordinária e seu poder imenso. E isso tornou-os ambiciosos, levando-os a desafiar os Deuses e a escalar o Monte Olimpo com a intenção de destronar Zeus e destruir os Deuses.

Zeus aconselhado por Têmis, decidiu que ele e os demais Deuses deveriam acertar os Andróginos na coluna, de modo a dividi-los exatamente ao meio, para que se tornassem menos poderosos, sem precisar aniquilá-los. Pois aniquilar as criaturas significaria ficar sem os sacrifícios, as homenagens e a adoração. Mas insolência das criaturas era totalmente inadmissível, e por isso deveriam ser castigadas.

As criaturas poderiam continuar vivendo e com o tempo eles esqueceriam o ocorrido e apenas perceberiam seu desejo por sua outra parte. Um desejo jamais inteiramente saciado no ato de amar, porque mesmo derretendo-se no outro pelo espaço de um instante, a alma saberia, ainda que não conseguisse explicar, que seu anseio jamais seria completamente satisfeito. E a saudade da união perfeita renasceria, nem bem os últimos gemidos do amor se extinguissem.

Essa triste história é representa no ocidente a origem da cara metade, ou ainda a busca incansável pela alma gêmea, onde apenas um ser irá lhe completar e não há nenhuma garantia que o seu companheiro ou companheira seja a sua metade outrora dividida. Não existe mal algum em conhecer as mitologias que tanto influenciam a humanidade, porém viver acreditando que que a sua felicidade depende essencialmente em encontrar esse ser dividido de você, o mais difícil como saber quem realmente é esse ser, isso sim é um grande perigo.

Entendo que em pleno século XXI isso possa parecer distante da vida de maioria das pessoas. Mas não é bem assim muitas pessoas vivem procurando pessoas que a completem, me digam se não é a busca da cara metade. O ideal seria se aperfeiçoar ser um ser completo, vivendo a sua totalidade, que pode ser compartilhada com o outro.

Imagina a chance de insucesso nessa busca épica. Você buscando dentro de um universo de mais de 7 bilhões de pessoas apenas uma única pessoa que irá te completar. E como se não bastasse buscar o planeta inteiro como a reconhecer, quais características seriam complementares. E, como se não bastasse a mitologia coloca uma situação mais difícil, após encontrar e estar com a sua alma gêmea a insatisfação permanece, visto que a união perfeita nunca ocorrerá uma vez que fora dividido e estando apenas ao lado continua sendo dois seres, e não mais um como na origem. Então encontrar a cara metade não é o suficiente, e por si só não alivia a insatisfação com o viver incompleto.

Mas sejamos mais otimistas, não buscar no outro aquilo que lhe falta, e aperfeiçoar as suas imperfeições pode ser uma boa saída para essa busca. Viver bem consigo é primordial para viver bem com o outro. Busque em si mesmo aquilo que lhe falta, e perceba o outro como um ser imperfeito mais também completo. Afinal, não somos seres incompletos, somos seres completos, mesmo com as nossas imperfeições somos completos.

É a condição da imperfeição que nos torna humanos, isso nos possibilita ter um relacionamento realista e maduro. Evitando idealizações que muitas vezes lembra o egoísmo de narciso que busca no outro apenas a si mesmo.

Relacionar com alguém, é saber que o outro é o outro. Isso é fantástico é necessário ter atitude, pois se você não tiver atitude depositará no outro toda a responsabilidade pela sua felicidade, e será que o outro dá conta disso. Ter atitude é um aspecto de grande importância nos relacionamentos saudáveis, saiba as atitudes que você precisa desenvolver. Não para que você encontre aquele que o completa. E, sim para que você enquanto ser completo possa corrigir as suas imperfeiçoes, e possa ser mais feliz com a pessoa que você escolher, não porque ela é sua alma gêmea (pode até ser), mais porque você decidiu assumir as suas atitudes e os seus relacionamentos, não deixando mais a cargo do acaso. E vivendo de modo mais dedicado e feliz os seus relacionamentos.

Publicado em:

Leite, Manoel Rodrigues. 7 atitudes para um relacionamento sem stress. Sinop – MT: Ações Literárias Editora, 2019