O despertador tocou? Nem sei, tô perdido,
Já são nove e meia e eu ainda tô dormido.
Mas liguei o notebook, câmera desligada,
Só ajeitei o cabelo, a camiseta rasgada.

Na reunião do Zoom, fingi atenção,
Enquanto fritava um ovo e fazia café no balcão.
O chefe falava de metas e prazos absurdos,
E eu caçando o gato, que comeu meus churros.

Tentei me concentrar, juro por tudo,
Mas o vizinho começou um pagode no último agudo.
Minha mãe passou atrás com toalha na cabeça,
E o entregador gritou: “É da Shopee, Dona Tereza.”

Fui almoçar às três com um miojo cansado,
Que olhou pra mim e disse: “de novo? Tô traumatizado.”
Depois de um power nap que virou um roncado,
Acordei às cinco, com o teclado todo babado.

Na avaliação de desempenho fui honesto e direto:
"Sou proativo, multitarefa e durmo discreto.”
O RH sorriu e falou bem contido:
“Só queremos saber como você trabalha se está sempre escondido.”

E assim sigo firme, remoto e com fé,
Trabalhando em casa… com dedicação... Sabe comé, né?
Mas se a meta é bater, vou só bater o ponto,
Porque a sanidade... dá pra ver por esse conto.