Meu Abrigo
Contos | Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas. | Silvia Dos Santos AlvesPublicado em 12 de Maio de 2025 ás 21h 43min
Era ali, entre os sussurros das folhas secas e o aroma de madeira envelhecida, que Anne, encontrava seu refúgio. A cada outono, o pequeno chalé no bosque tornava-se seu templo de silêncio, onde as memórias se misturavam ao vento e aos contos deixados nas prateleiras empoeiradas.
Os livros, espalhados pelo chão como folhas caídas, guardavam segredos de épocas distantes. O vinil, girando num tocador ancestral, soltava acordes nostálgicos que pareciam conversar com a luz tímida filtrada pelas janelas. Cada nota desafiava o tempo, criando camadas de lembranças que se mesclavam ao presente.
Anne, percorria aquele espaço com um olhar de quem pertencia àquele cenário pintado pela estação. O outono, sábio e dourado, desenhava enredos em sua alma, envolvendo-a em uma ternura indescritível. A brisa trazia histórias sussurradas de amores guardados, de promessas que o tempo não levou.
Ali, onde o mundo desacelerava, ela compreendia que a eternidade não morava no grandioso, mas na delicadeza dos instantes. No crepitar da madeira na lareira, no cheiro de chá misturado com as páginas amareladas, e na sensação de pertencimento que só o outono sabia oferecer.
E assim, entre as paisagens douradas, Anne, se deixava envolver, sabendo que, naquele instante fugaz, ela havia encontrado seu abrigo.
Livro: FRAGMENTOS DO PASSADO