Junho era um mês, por nós, muito esperado, pois a Festa de São João na Cidade Morena movia toda a comunidade Nossa Senhora de Guadalupe. Eu via meu pai, minha mãe, a vizinhança e a criançada se juntando para organizar os preparativos da festa. Todo mundo ajudava. Era lindo de se ver.

Quadrilha, dança da fita e casamento caipira ensaiados;

Lenha e pneus velhos para montar a fogueira;

Revista, jornal, cola de farinha e barbante para fazer as bandeirinhas;

E aquele cheiro bom de quentão, bolo de milho, canjica e pé de moleque saindo.

Que alvoroço ver os homens erguendo a fogueira,  que cada ano ficava mais alta.

Quem será o padrinho da fogueira este ano? Gritava um.

Quem mais dinheiro  desembolsar e colocar no envelope! Gritava outro.

Será Fulano? Sicrano? Beltrano? E vários nomes iam sendo cogitados.

Logo chegava à noite. E o povo animado, vinha trajado.

De mamando a caducando, todos vinham prestigiar São João.

A animação era por conta dos gaiteiros e violeiros. 

O padrinho da fogueira logo era revelado, subia para acender a fogueira e dar início a festança. 

Foguetes iluminavam o céu.

Viva São João!

A escolha da sinhazinha era um momento muito esperado, pois quem tinha vendido mais talões e juntado mais dinheiro, era escolhida a sinhazinha.

E num desses anos eu ganhei como sinhazinha. Lá fui eu receber a faixa e a coroa.

Que emoção, que alegria! Isso não se faz mais hoje em dia!

Depois juntávamos os pares e íamos dançar quadrilha, participar do casamento caipira, brincar na pescaria e comer guloseimas.

A gente se divertia!

No final, o que se via era gente pulando a fogueira, que já era brasa.

E tudo isso na minha memória, não se apaga!