MELODIA DA SUPERAÇÃO

Contos | Antologia Ed Bento e convidados - Os espinhos não ferem as rosas | Amanda Mazzei
Publicado em 17 de Maio de 2024 ás 18h 29min

No coração de uma cidade esquecida pelo tempo, onde as ruas eram pavimentadas com lembranças e sonhos desfeitos, vivia Clara. Seus olhos eram de um azul profundo, refletindo tanto os mares revoltos da esperança quanto os céus nublados da resignação. Ela caminhava diariamente pelas mesmas vielas, sentindo o peso de cada passo como se carregasse consigo todas as frustrações do mundo.

A realidade de Clara era árdua. Trabalhava em uma pequena padaria, cujas paredes desbotadas eram testemunhas silenciosas de sua luta incessante. O cheiro de pão fresco pela manhã e o calor dos fornos eram seus companheiros mais constantes. No entanto, sua mente frequentemente vagava para longe, imaginando uma vida onde o sol sempre brilhava e os ventos sopravam promessas de dias melhores.

Em uma dessas manhãs, enquanto moldava a massa com mãos habilidosas, Clara ouviu uma melodia suave. Era um violinista, um velho homem cuja música parecia tecer um tapete de estrelas no ar. Intrigada, ela saiu para ouvi-lo melhor. A cada nota, sentia uma pequena chama de esperança acender em seu peito.

O violinista, percebendo sua atenção, sorriu e disse: "A música tem o poder de transformar nossa realidade, se permitirmos que ela alcance nossos corações." Clara não sabia se era verdade, mas decidiu acreditar, ao menos por um momento.

Todas as tardes, após o trabalho, Clara passava algum tempo com o violinista. Ele lhe contava histórias de lugares distantes e maravilhosos, e cada conto era como um tijolo na construção de um novo sonho. Lentamente, ela começou a ver sua própria cidade de maneira diferente. As paredes desbotadas da padaria começaram a ganhar vida em sua mente, revestidas de cores vibrantes e histórias não contadas.

Um dia, Clara decidiu que não apenas sonharia, mas também agiria. Com o apoio do violinista e de outros moradores que também ansiavam por mudança, começou a revitalizar a padaria. Pintaram as paredes, adicionaram flores às janelas e expandiram o menu com receitas novas e inspiradoras. Logo, a pequena padaria se tornou um ponto de encontro para a comunidade, um lugar onde as pessoas vinham não só para comprar pão, mas para compartilhar sonhos e alegrias.

A transformação da padaria foi apenas o começo. Clara e seus vizinhos começaram a revitalizar outras partes da cidade, guiados pela música do velho violinista que nunca cessava de tocar. A cidade esquecida pelo tempo foi redescoberta, tornando-se um símbolo de resiliência e superação.

A realidade de Clara havia mudado, mas não por um milagre súbito, e sim pelo poder de acreditar e agir. O que começou como um sonho poético se tornou uma realidade palpável, provando que, às vezes, a linha entre a superação e a realidade é tênue, e a chave para cruzá-la reside em nossa capacidade de imaginar, acreditar e transformar.

Assim, Clara aprendeu que a música da vida é composta não apenas de notas de esperança, mas também de acordes de coragem e perseverança. E, ao final de cada dia, enquanto ouvia o som do violino ecoando pelas ruas renovadas, sabia que a realidade que havia construído era, de fato, o mais belo dos poemas.

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