Maldição do amor

Contos | Claison Maldonado das Neves
Publicado em 17 de Março de 2024 ás 09h 18min

Em uma noite de tempestade, no final do século 19, um homem chamado Augusto saiu de sua casa com uma pá e uma lanterna. Ele estava perturbado com a morte de sua esposa, Clara, que havia falecido há uma semana de uma doença misteriosa. Ele não conseguia aceitar que ela se foi para sempre. Ele queria vê-la mais uma vez, mesmo que fosse apenas seu cadáver.

Ele caminhou sob a chuva e o vento até chegar ao cemitério da cidade. Ele pulou o muro e procurou pela sepultura de Clara. Ele a encontrou em um canto escuro, coberta de flores murchas. Ele começou a cavar a terra com sua pá, sem se importar com o barulho ou o perigo. Ele só queria desenterrar sua amada.

Ele cavou por quase uma hora, até que finalmente atingiu o caixão de madeira. Ele o abriu com cuidado e viu o rosto de Clara, pálido e imóvel. Ele sentiu uma mistura de alívio e angústia. Ele a pegou nos braços e a beijou na testa. Ele chorou e sussurrou:

- Me perdoe, minha querida. Eu não podia viver sem você. Eu vim te buscar para ficarmos juntos para sempre.

Ele então se levantou e carregou o corpo de Clara para fora do cemitério. Ele pretendia levá-la para sua casa e enterrá-la em seu jardim. Ele achava que assim ela estaria mais perto dele e ele poderia visitá-la sempre que quisesse.

Ele não percebeu que estava sendo observado por um homem de capa preta, que o seguia à distância. Esse homem era o responsável pela morte de Clara. Ele era um médico que fazia experiências com cadáveres, tentando reanimá-los com eletricidade. Ele havia injetado um veneno em Clara, fingindo que era um remédio, e esperava que ela morresse para usar seu corpo em seus experimentos. Ele ficou furioso ao ver que Augusto havia roubado seu espécime. Ele decidiu que iria recuperá-lo, custe o que custar.

Ele se aproximou de Augusto e o chamou:

- Ei, você! O que você está fazendo com esse cadáver?

Augusto se assustou e se virou. Ele reconheceu o médico que havia tratado de Clara. Ele sentiu uma onda de raiva e ódio. Ele gritou:

- Você! Você é o culpado pela morte dela! Você a envenenou!

- Do que você está falando? Eu tentei salvá-la, mas era tarde demais. Ela estava condenada - o médico mentiu.

- Mentiroso! Você a matou para usar seu corpo em seus experimentos macabros! Eu sei de tudo! Eu vi seus cadernos, suas anotações, seus instrumentos! Você é um monstro! - Augusto acusou.

- Você está louco! Você é que é um monstro, roubando o corpo de sua esposa do cemitério! Você não tem respeito pelos mortos! Você é um necrófilo! - o médico retrucou.

- Cale a boca! Você não sabe de nada! Você não sabe o que é amor! Você não sabe o que é dor! Você não sabe o que é perder alguém que se ama! - Augusto exclamou.

- Chega de conversa! Me devolva o corpo de Clara, ou eu vou te matar! - o médico ameaçou.

- Nunca! Ela é minha! Ela sempre será minha! - Augusto desafiou.

Os dois homens então entraram em uma luta feroz. Eles trocaram socos, chutes e mordidas. Eles rolaram pelo chão, sujos de lama e sangue. Eles não se importavam com a chuva, o trovão ou os relâmpagos. Eles só queriam o corpo de Clara.

No meio da confusão, o corpo de Clara caiu no chão e ficou exposto à tempestade. Um raio atingiu o corpo, fazendo-o tremer e brilhar. Uma corrente elétrica percorreu o corpo, reativando seu coração e seu cérebro. Clara abriu os olhos e respirou fundo. Ela estava viva.

Ela olhou em volta e viu os dois homens que lutavam por ela. Ela reconheceu seu marido e seu médico. Ela se lembrou de tudo o que havia acontecido. Ela sentiu uma mistura de medo e nojo. Ela gritou:

- Socorro! Alguém me ajude! Tirem esses homens de cima de mim!

Ela se levantou e correu para longe, deixando os dois homens atônitos. Eles pararam de lutar e olharam para ela, incrédulos. Eles não podiam acreditar no que viam. Eles tinham acabado de testemunhar um milagre. Ou uma maldição.

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