Luta pela sobrevivência

Contos | Marlete Dacroce
Publicado em 02 de Março de 2022 ás 21h 17min

Luta pela sobrevivência
            Morando em uma cidade no sul do país, meu pai cansado de trabalhar e ver todo o lucro sendo levado pelo banco deixa a família e parte em busca de uma vida melhor.

Aventurou-se nos cerrados de Mato Grosso junto com ele seus dois irmãos que compraram o direito de posse de uma área de terra devolutas foi comprado o direito de posse de 4.800 hectares de um lado a divisa era a serra com um abismo de 110 mt. A terra assim foi dividida pelo valor pago por cada sócio, 800 hectares para meu pai e 2.000 hectares a cada irmão.

Mamãe e nós, os 5 filhos longe de tudo e sem nenhuma comunicação vivíamos a angustia da partida até a chegada incerta de papai que demorava quase sempre dois a três meses devido à distância de Xanxerê SC até o Mato Grosso.

Chega o momento da decisão vamos embora para o Mato Grosso!  Fomos morar em uma casa inacabada distante 70 km da primeira cidade Poxoréo o vizinho mais próximo 15 km, ali estávamos longe de tudo e de todos.

Então começa a luta pela sobrevivência! Papai foi enganado pelos irmãos os quais ficaram com toda a terra já destocada e produzindo e com as máquinas novas. Restando para nós um trator SBT 65 sem nenhuma condição de uso a terra coberta pelo cerrado e como se não bastasse a única lagoa, fonte natural de água existente nas terras, nos foi negada pelo irmão que o ameaçou papai empunhando uma arma na mão.

A solução para nós era terminar um poço que até minar a água, mediu 32 metros. Do fundo desse poço tirávamos manualmente toda água necessária para o consumo.

Nós ainda todos pequenos fomos obrigados a trabalhar de sol a sol...colhendo restos de arroz que sobravam ao redor dos tocos em fazendas vizinhas, para termos o mínimo necessário para o sustento familiar, passamos por muitas privações e necessidades alimentares, sobrevivíamos do que a mãe terra nos dava, por anos nosso café da manhã era batata doce  com chá de ervas cidreira e outros, meia manhã e meia tarde abóbora doce salada arroz  puro e outros era o que tínhamos para o momento, sonhávamos com alguns alimentos ex. o pão, mas a vontade de vencer era mais forte do que as nossas privações.

Todo trabalho que aparecia lá estávamos nós cortando arroz soja de foicinha juntando cerrado, tocos e as e raízes juntávamos dinheiro para consertar o trator, para assim plantarmos a primeira lavoura.

Enfim conseguimos, consertar o trator, plantamos a primeira safra que foi maravilhosa a benção de Deus, com o dinheiro papai comprou uma camioneta com ela papai começou puxar frete, comprava e revendia laranja e poncã, com o dinheiro investia para a melhoria de nossas vida. 

Assim aos poucos a vida foi melhorando, porém todos nós estávamos sem estudo, então papai comprou uma chácara que ficava próximo a vila para que principalmente os irmãos menores pudessem estudar.

Porém o irmão não se dá por satisfeito, e mais uma vez tenta tirar a terra onde morávamos fazendo documento falsos só mais tarde descoberto, foi terrível. Papai cansado desta vida decide vender tudo e partir para longe em busca de paz e sossego, em uma cidade que havia acabado de conhecer a cidade de Sinop/MT.

Novamente, início vida difícil pela falta de estrutura e poucas condições financeiras, mas não faltando espirito de luta pensamento positivo e união na família. Com o passar do tempo tudo foi melhorando, nossa família começava a ter uma nova vida, já podíamos ter quase tudo que queríamos, não passávamos mais tantas privações e necessidade, 12 anos se passaram Sinop ainda estava sendo desbravada.

Então acontece o inesperado papai adoece de repente, vai ao hospital em apenas dois dias estava desenganado pelos médicos. É levado às pressas para Goiânia com um avião fretado, chegando la quase sem vida começa mais uma batalha, agora era contra a morte, ficando internado durante quarenta dias. O inimigo não era mais os desentendimentos os seus familiares, mas sim a terrível doença o câncer, após sessões de quimioterapia muito a abatido ele retorna ao lar.

Recomeça um novo período de sofrimento onde tudo era controlado e marcando as quimioterapias a cada 20 dias aos poucos foram tirando as forças físicas. Mas o otimismo e a vontade de vencer novamente fala mais alto, aos poucos se recupera,10 meses se passaram e uma nova crise acontece, papai um homem forte ignora a dor se transformando na pessoa mais forte que conheci.

Novamente teríamos que leva-lo a Goiânia, uma vez que em Sinop não havia recurso suficiente para o tratamento, ele porém não aceitava a ideia de deixar o lar outra vez, como se o seu inconsciente lhe disse algo, mas era necessário uma vez que o câncer já havia tomado com da coluna e, ele havia perdido o sentido das pernas, a dor era insuportável, volta para o hospital em Goiânia outra vez.

Novamente vinte e três dias se passam, papai dia após dia é vencido pela dor e pelas drogas que era obrigado a tomar. Na hora do sofrimento la estávamos nós todos juntos em Goiânia. Um novo dia amanhece papai chama um a um com a voz rouca e muito cansado, mas a cada filho deixa sua mensagem. Após dois dias papai falece, é vencido pelo câncer, ali termina a luta pela sobrevivência de herói que lutou até o último momento queria muito viver.

Para nós papai continuará sempre vivo em nossas vidas. Darci Dacroce foi exemplo de trabalho exemplo de luta e que jamais devemos desistir dos nossos objetivo.

Em Sinop seu nome foi imortalizado pelos trabalhos prestados, reconhecido o seu legado como “Bravo soldado” se tornou símbolo de resistência. Hoje eternizado no solo Sinopense em nome de “a Rua 12”, que corta os Bairros Jd. Europa, Boa Esperança, São Paulo e outros recebeu o nome de Darci Dacroce e mais a Rotatória em frente a comunidade Rural Brígida aprovada em lei na Câmara Municipal “Praça Darci Dacroce”.

Hoje presto minha homenagem ao Sr. Darci Dacroce: meu pai, meu herói, meu exemplo de “Determinação”.

Desistir Jamais!!! Marlete Dacroce.

Publicado na antologia de dezembro,2021

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