LSD

Contos | Isolti Cossetin
Publicado em 22 de Abril de 2022 ás 13h 24min

                         LSD

Norah era filha única de um rico empresário da cidade de Odense, Dinamarca. Tudo o que ela queria, ela tinha. Tinha as melhores roupas, as mais belas e caras joias, os mais sofisticados aparelhos eletrônicos. Vivia numa luxuosa mansão, comia e bebia do bom e do melhor. Não precisava preocupar-se com nada.

Às vésperas de completar vinte e um anos, seus pais não sabiam mais o que lhe dar de presente. Então, resolveram dar-lhe uma festa muito chique e um carro. Escolheram um modelo não muito comum: um jaguar vermelho.

Porém, para Norah, tudo o que ela possuía de nada valia. Estava sempre rodeada de amigos, mas sentia-se muito só. Vivia no luxo, contudo sentia-se pobre e vazia. Aos 15 anos já era viciada, dependente química do cigarro e, aos poucos, foi experimentando outras drogas até conhecer o LSD (dietilamida do ácido lisérgico). Ela só se sentia relaxada, quando estava sob o efeito desta droga.

Vivendo de maneira nada saudável e infeliz, assim os anos foram se passando. Seus pais, ocupados demais em manter a posição social, não percebiam o caminho sem volta que a filha estava trilhando. Para eles, tudo estava na mais completa paz e normalidade. Acreditavam que a filha vivia totalmente feliz, afinal, nada lhe faltava.

O grande dia chegou. Norah estava radiante em seu vestido longo azul-celeste que realçava ainda mais o tom azul-claro de seus olhos e o tom castanho-claro de seus cabelos. Para não provocar qualquer situação desconfortável, Norah achou melhor manter-se o mais sóbria possível e evitou fazer uso de qualquer substância. Ela queria passar a imagem de boa filha e, dessa forma, poupar seus pais de qualquer constrangimento.

A festa estava perfeita, mas Norah não via a hora que tudo aquilo acabasse, para que novamente pudesse mergulhar em seu mundo sombrio onde ela realmente sentia-se bem.

A festa foi maravilhosa. Os convidados comeram, dançaram e divertiram-se muito. Norah fez o possível para alegrar a todos. Um pouco antes da festa terminar, os pais de Norah pediram a atenção de todos, agradeceram a presença dos convidados e   fizeram a entrega da chave do carro à filha. Ela esforçou-se muito em sorrir e dizer que estava muito feliz com a festa,    sobretudo com o magnífico presente.

Já era madrugada, quando os convidados deixaram o salão de festa. Aliviada, Norah foi imediatamente para casa, pois ansiava por uma dose do seu calmante, no caso o LSD.

Ela evitou a cama. Assim que sentiu o efeito provocado pela droga, lembrou-se do maravilhoso presente que seus pais lhe deram.

O dia ainda não clareara. Ela pegou as chaves do seu carro e foi experimentá-lo. Estava andando em alta velocidade, quando percebeu, ao longe, luzes piscando. Diminui a velocidade e, à medida que se aproximava do local, compreendeu que havia acontecido um grave acidente. Um dos guardas fez sinal para que ela parasse e pediu que socorresse o rapaz que estava muito ferido, pois a ambulância do resgate demoraria muito para chegar e isso poderia pôr em risco a vida da vítima.

Norah falou que não iria sujar seu carro com o sangue de um qualquer e completamente desconhecido. Disse que seu carro era novo e que precisava seguir. O guarda ordenou-lhe que cumprisse suas ordens sob pena de prendê-la por desacato à autoridade e omissão de socorro.

Sem outra saída, Norah fez o que o guarda lhe pedira.

Deixou o rapaz ferido na Santa Casa mais próxima e foi dar um jeito de limpar seu carro.

Os dias passavam e ela já não era mais a mesma. Sentia uma inquietude e, constantemente, pensava no rapaz do acidente.

Certa manhã tomou uma atitude. Foi ao hospital saber notícias dele.

Chegando lá, ficou sabendo que ele havia se recuperado e já tinha recebido alta. Sem saber por que, pediu o endereço residencial do moço e dirigiu-se à sua procura.

Naquela manhã de garoa fina, Norah ficou conhecendo o subúrbio, a periferia da grande cidade onde ela morava e jamais imaginava existir tanta pobreza, miséria, fome, drogas e violência como via agora naquelas ruas estreitas por onde passava.

Com um pouco de dificuldade encontrou o número da casa. Era uma casinha simples, mas muito bem cuidada. Com um pouco de receio bateu à porta e uma senhora de idade veio atendê-la.

Norah explicou-lhe o motivo da sua presença ali e a senhorinha, com lágrimas nos olhos, disse-lhe:

_ Louvado Seja Deus, minha filha! Seu gesto de boa vontade em socorrer meu neto foi o que lhe salvou a vida...

Ao ouvir as três primeiras palavras, Norah sentiu uma emoção muito forte e um sentimento inexplicável tomou conta do seu ser. Repetiu mentalmente as palavras ditas pela mulher:  ”Louvado Seja Deus – LSD” e compreendeu nesse momento que precisava dar um novo sentido para sua vida. Despediu-se daquela senhora, sentindo uma vontade imensa de se sentir gente, de fazer algo para ajudar quem precisasse de ajuda.

Foi para casa, conversou seriamente com seus pais e pediu-lhes ajuda. Depois de um longo período de tratamento, terapia e acolhimento familiar, organizou um evento onde leiloou todos os seus ricos e caros presentes, inclusive o jaguar vermelho.. Com o dinheiro arrecadado, com a ajuda dos pais e alguns amigos criou o Centro de Recuperação “LSD: LOUVADO SEJA DEUS” e daquele dia em diante conheceu a alegria de viver, pois vivia feliz, rodeada de amigos e o mais importante: sentia-se uma pessoa útil.

Comentários

Louvado seja Deus, uma verdadeira história de convenção!

Victor | 22/04/2022 ás 14:30 Responder Comentários

Belo conto, parece real, esse negócio de droga é um verdadeiro abismo. Quem dele se livra deve dizer “Louvado seja Deus!”

Enoque Gabriel | 22/04/2022 ás 19:21 Responder Comentários
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