Lobos em Pele de Cordeiro
Fevereiro. Mês chuvoso. A natureza se revela em tons vibrantes, contrastes exuberantes que saltam aos olhos. As árvores ostentam um verde intenso, os rios correm livres, alegres como crianças brincando na rua. O ar fresco convida ao aconchego — seja ao lado de quem amamos, seja na doce companhia de nós mesmos.
Mas os dias chuvosos também nos prendem ao mundo virtual. Ficamos mais conectados e, consequentemente, mais expostos. Golpes estão por toda parte. Eu sabia disso. Só não imaginava que me tornaria uma vítima.
Há tempos trilho um caminho espinhoso e traiçoeiro, acumulando perdas, dores e cicatrizes. Resolvi desacelerar. Evitar sofrimento. Mas a vida, essa caixinha de surpresas, tem formas inesperadas de nos testar. Ela age como uma visita inesperada, que bate à porta sem avisar.
Tenho redes sociais, mas não sou tão ativa. Às vezes, posto fotos, troco mensagens. Ajo normalmente, sem exageros. Também não costumo iniciar conversas pelo Messenger, mas respondo quando alguém me cumprimenta — ignorar parece falta de educação.
Foi num dia qualquer que a mensagem chegou:
— Oi, boa tarde!
Respondi sem pensar:
— Oi, boa tarde!
Logo, outra notificação:
— Desculpa, mas seu rosto me é tão familiar… Você é de São Paulo?
— Não precisa pedir desculpas. Sou do Rio Grande do Sul.
E assim, sem aviso, uma conversa nasceu. Por horas, trocamos palavras. Mais tarde, ele perguntou:
— Posso te mandar meu número para conversarmos pelo WhatsApp?
— Claro!
No dia seguinte, a rotina se repetiu:
— Bom dia!
— Bom dia!
As mensagens fluíam, leves, envolventes. Logo, nos chamávamos por apelidos carinhosos. Horas de conversas durante o dia, chamadas intermináveis à noite. Tudo era perfeito. Perfeito demais.
Na terceira semana, a conexão parecia tão real que quase esquecemos a distância. Eu já imaginava um encontro, um futuro. Mas a realidade, fria e cruel, era outra.
Certo dia, ele disse que o telefone havia estragado. Compraria um novo na semana seguinte.
— Tudo bem! — respondi.
Na terça-feira, seguimos conversando. Ele garantiu que resolveria tudo na quinta. Mas, de repente, o silêncio. Nenhuma mensagem. Nenhuma explicação. Lembrei do telefone quebrado e aguardei.
Sexta, sábado, domingo. Nenhum sinal. Nem no Messenger.
Na noite de domingo, uma única notificação: um emoji. Apenas isso.
Algo estava errado.
Enviei um "bom dia", perguntando se estava tudo bem. Ele visualizou, mas não respondeu. O incômodo cresceu. Às dezenove horas, tentei novamente. Dessa vez, ele respondeu e sugeriu uma ligação.
— Tudo bem.
Três horas e onze minutos no telefone. Tempo suficiente para a ilusão se desfazer.
Entendi, enfim, que existem pessoas que brincam com sentimentos alheios. Que manipulam palavras bonitas, criam realidades falsas, iludem e somem. Confiamos, nos entregamos, e, no fim, percebemos que certas pessoas não merecem nem um segundo da nossa atenção.
O mundo é um lugar difícil para nós. Somos imperfeitos, ainda aprendemos a nos adaptar. Mas, no meio desse cenário machista e grotesco, há aqueles que se aproveitam da nossa vontade de acreditar.
Hoje, ainda uso redes sociais, ainda respondo mensagens. Mas nunca mais caí em palavras vazias.
No fim, aprendi que promessas doces podem ser apenas ecos distantes. O tempo revela intenções. O que parecia um encontro do destino era apenas mais uma cilada.
E disso tirei uma certeza: minha paz vale mais do que qualquer ilusão.
É preciso estar atentas. O mundo virtual está cheio de lobos em pele de cordeiro.
Ensaio Narrativo. Rose Correia.