Linha tênue

Prosa Poética | Romeu Donatti
Publicado em 11 de Junho de 2024 ás 20h 03min

A vida é mesmo um sopro.

A temos por instantes,

alguns anos...

E não mais que de repente,

ela escorre por entre os dedos

levando de nós, nossas alegrias

deixando-nos com nossos medos.

 

Frase feita.

Jargão.

Lugar comum.

De fato é...

 

A vida é isso tudo.

Nascemos vazios

de preocupações,

de angústias,

de durezas,

de senões.

 

Aos poucos,

enchemos nossas vidas

de pessoas,

de coisas,

das coisas que essas pessoas trazem.

De sentimentos e emoções.

E de repente...

A vida está cheia,

plena,

repleta,

de amigos,

de amores,

de ilusões,

de esperança,

de alegria,

de hojes,

de ontens,

de vida...

 

E de repente...

A "indesejada das gentes" se aproxima:

leviana,

sorrateira,

inesperada,

inescrupulosa.

E, rapidamente nos vem à mente:

a vida é um sopro....

 

E aí queremos tudo!

Prometemo-nos que mudaremos.

Que marcaremos aquele café com os amigos, adiado tantas vezes em nome da correria diária.

Que visitaremos os pais.

Que nos entregaremos de corpo e alma àquela música inesquecível que toca de madrugada.

Que faremos aquela viagem programada, desprogramada e reprogramada reiteradamente.

Que brincaremos na chuva.

Passearemos com o cachorro no fim de tarde.

Sentaremos com aquele amigo e resolveremos uma mágoa do passado.

Leremos os livros intocados na estante.

Faremos aquela ligação para a vovó postergada inúmeras vezes.

 

No entanto, em seguida, lembramos que a vida precisa continuar...

E tudo retoma seu curso, volta ao normal. Porque a vida não para!

 

Até que, novamente, nos defrontamos com a linha tênue que separa a vida da morte. A mesma linha que a morte utiliza para costurar sua teia a fim de mostrar nossa fragilidade. E, enredados por ela, tentamos parar e retroceder a roda do tempo.

É inútil! É tarde demais!

E o calafrio da morte percorre nossos ossos, segura nossas mãos débeis e leva-nos consigo.

Sem, ao menos, nos ter dado a derradeira chance.

Mas de quantas chances precisamos? Ou quantas queremos?

 

A vida é um sopro.

Um sopro de vida:

ventos de alegria, amor e bençãos.

Tempestades, redemoinhos.

Um sopro de sonhos.

Um sopro de alerta.

Um sopro de aviso:

Viva enquanto ainda há tempo; dá tempo!

Antes que a morte assopre seu gelado vento!

Livro: O que quero da vida

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