Lembranças de Estações Perdidas
Contos | Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas. | Silvia Dos Santos AlvesPublicado em 12 de Maio de 2025 ás 21h 59min
Caminho pelas ruas da memória, onde cada esquina guarda vestígios da primavera que um dia pintei com os pés descalços. O chão era seco, de uma terra que teimava em ser dura, mas as cores, ah, essas nunca desistiam. Ipês tingiam o céu, como se dessem vida a um tempo que se recusava a ser esquecido.
Havia um vento leve, brincando comigo enquanto eu me agarrava aos cipós, voando entre galhos e folhas, sentindo o sol como um velho amigo que dourava cada instante. As roupas lavadas no rio eram bandeiras da simplicidade, tremulando à luz da manhã, enquanto os medos—serpentes que espreitavam na mata—faziam de nós mais unidos, mais fortes.
Era a primavera, a estação das promessas e dos risos ao som do vinil. Um tempo em que éramos mais próximos, mais inteiros, sem pressa de partir. Hoje, ao olhar para trás, percebo que aquelas flores não enfeitavam apenas as ruas. Enfeitavam almas. E por isso, a primavera, para mim, será sempre eterna.
Livro: FRAGMENTOS DO PASSADO