João nasceu muito pobre, em uma favela de uma cidade grande, onde cresceu junto de seus pais e mais quatro irmãos. João era o caçula.
No barraco, desprovido de qualquer conforto, foi criado com dificuldades, fome, enfim, em total miséria e racionamento, mas teve uma boa educação dos pais e ótima convivência com os irmãos.
Seus momentos alegres vinham dos jogos de futebol com os amigos, no campinho de terra, e da amizade com a professora Ivone, que lecionava para a sua turma e lhe imprimia carinho e instrução na precária escola da comunidade.
Dona Ivone lhe dera uma mochila com alguns materiais escolares e livros velhos de leitura. João lhe era agradecido por isso. A professora olhava com admiração para o pequeno garoto que lia admiravelmente bem para um aluno de oito anos.
Certa noite, sem entender direito, João acordou assustado e sufocado pela fumaça. Sua casa pegava fogo. Neste lastimável incidente, o menino perdera os pais, que não conseguiram se acordar e fugir do incêndio voraz.
Do barraco, não sobrou nada. Dos objetos, João salvou a mochila, porque dormia grudado a ela. Da companhia, apenas os irmãos, com os quais passou a morar na rua.
Foi o que lhe restou: nenhuma perspectiva de vida.
Os irmãos conviveram vários anos juntos, porém o destino foi levando cada um para um lado.
Já com treze anos, João passou a dormir na porta de uma farmácia e, com o passar do tempo, fez amizade com o dono do estabelecimento, o Seu Samuel.
Samuel se compadecia em ver o garoto naquela vida. Então lhe dava algum servicinho, como varrer a farmácia, limpar os banheiros. Em troca lhe dava comida. À noite, João era o “segurança” do local, enquanto dormia unido à porta.
Muitas vezes, Samuel viu João catar livros, revistas e jornais nas lixeiras e passar horas lendo sentado na calçada. Intrigado com aquilo, Samuel perguntou-lhe se sabia ler.
João disse que estudara pouco, mas sabia ler e consigo carregava ainda a velha mochila que salvara do incêndio.
Assim se passaram sete anos.
A amizade entre João e Samuel ficou mais concreta e o hábito das leituras recolhidas no lixo foram sendo cada mais intensas.
Certo dia, João leu num jornal que estavam abertas as inscrições para o concurso da Caixa Econômica Federal. Falou ao amigo sobre seu interesse em se inscrever. Mas não tinha dinheiro.
Samuel apoiou tanto a ideia de João, que até lhe deu o dinheiro para pagar a inscrição.
João fez a prova e, trinta dias depois, recebeu o resultado de que havia passado em primeiro lugar no concurso.
Agora João e Samuel iriam se separar. Mas Samuel ainda pode fazer mais um ato de caridade para com o amigo: comprou-lhe a primeira roupa nova que o rapaz ganhara na vida e lhe pagou um barbeiro.
João jamais esquecera do amigo, com quem de vez em quando, se encontrava para conversar.
João conquistou muitos sonhos, sempre grato a todos que um dia lhe ajudaram e do conhecimento alcançado com as leituras do lixo.
Comentários
Que conto emocionante, parece tão real! Creio existirem muitos Joães por aí, afora, o difícil é encontrar algum Samuel!
Enoque Gabriel | 07/03/2023 ás 07:51 Responder Comentários