Lara e as Letras (projeto educativo)
Lara era uma garotinha de sete anos de idade. Morava no município chamado Sinop. Frequentava a escola, mas sua mãe já havia percebido que ela ainda tinha dificuldades na leitura.
A menina usava óculos enormes por causa da miopia moderada, e um suspensório que levantava sua coluna de uma forma exagerada, proporcionando-lhe uma silhueta quase corcunda.
Seus pais saíam cedo para a labuta diária e ela ficava com sua idosa avó durante todo o dia. A maior parte do tempo, Lara se ocupava com o celular, deixava para depois as atividades escolares. Os vilões da tecnologia acabaram com as perspectivas da família de Lara.
Mas, a mãe de Lara teve uma ideia: Espalhou nos cantos da casa enormes cartazes afim de que a menina se familiarizasse com as letras. Escreveu pequenos textos, com gravuras, para que sua filha associasse a leitura à imagem. Dona Maria sabia que, somente textos avulsos não eram nada atraentes para uma criança de sete anos de idade.
Mas nem mesmo diante de um ambiente alfabetizador, a garotinha havia aprendido a ler.
Entretanto um dia, quando seu celular desligou, a menina ociosa, procurando novas distrações, teve a imaginação de entrar num quarto onde quase ninguem entrava. Era um aposento aonde havia uma enorme prateleira esquecida. Avistou uma escada encostada na estante para olhar em cima.Ao subir na escada, a menininha se deparou com muitos livros empoeirados. Porém, um deles lhe chamou sua atenção. Era um livro gigante e estava cheio de teias de aranhas! Lara quase cai da escada quando viu o livro se movimentar. Ele estava com suas mãos enluvadas, retirava a poeira de sua enorme capa. Sem muitas discussões, ele lhe fez um fascinante convite:
−Você não quer conhecer o REINO DAS LETRAS?
Faz tempo que as pessoas me abandonaram, ninguém abre minhas páginas! passei quase metade da minha vida, preso nessa velha estante; até aranhas me visitaram! Quero sua ajuda menina.
Apesar de um pouco assustada a garotinha não pensou duas vezes.
Viu o livro amigo abrir o portão de suas páginas com leveza. E com uma chave de ouro, apresentou seu maior tesouro,o mundo mágico das Letras.
Lara se tornou uma peregrina no seu novo universo. Era uma mistura de mágica e travessura. Ela não imaginava que poderia viver algo tão inexplicável em sua pacata historieta.Tornaram-se as letras suas preferidas. Nem percebeu que havia deixado de lado o celular. Quem diria!! O coração da garota batia tão rápido quanto uma bomba pronta para explodir.
Enquanto isso, o senhor livro procurava meios de conduzir crianças para escutar as suas antigas histórias.
Seu desejo maior era de resgatar crianças para o orbe das muitas letras. Subitamente o livro parou, suas páginas estavam amareladas pelo tempo. Lara entendeu e sugeriu cuidado com seu amigo:
−Você vai ficar descansando. Vou procurar crianças que gostem de ouvi-lo. Espere-me, ficarás embaixo dessa árvore.
Lara se despedindo do amigo, prometeu mudar aquela situação, só não sabia como, mas arriscou. Entre caminhos e árvores frondosas, ela sentia o cheiro de terra molhada depois do chuvisco. E num cantinho, tão sozinha, Lara encontrou uma coruja. Era a coruja uma figura diferente,usava uma gravata vermelha. Lara,muito comunicativa, iniciou um diálogo com ela.
− Bom dia dona Coruja!
− Em que posso ajudar-lhe menina?
− Sou Lara e estou atrás de crianças para escutar a história do meu amigo livro.
− Mas aqui no reino das letras é muito fácil descobrir!
−Nada! As crianças estão presas num mundo virtual. Conversam por áudios e mensagens digitais. Estão conectadas e se esqueceram do Livro. Coitadinho do meu amigo!
− Entendi. É muito triste, vou ajudar sim.
Achando segurança na dona Coruja, a garota desabafa:
− Eu também esqueci dos meus livros e não largava o celular! Mas depois que cheguei aqui, percebi que os livros precisam serem lidos.
Dona Coruja acrescenta: − Existem no mundo milhões de leitores mirins que desde cedo conhecem as letras.
Lara e a coruja continuaram o percurso, quando encontraram enormes letras jogadas ao chão. Lara pulava de letra em letra. Mas de repente, ela escutou um soluço.
−Você ouviu isso amiga?
−Parece um lamento!
_ “Quem está tão triste? ”
A garota ficou preocupada, afinal estavam no Reino das Letras.
Era um rapazinho, de pelo menos dez anos de idade.Tinha um rostinho comprido.Debaixo do braço, carregava um livro nas mãos.
− Olá. Por que está chorando?
− Perdi-me no caminho de casa. Comecei a ler um livro, mas acabei dormindo. E acordei aqui, neste lugar estranho.
− Saiba amiguinho que você veio para o lugar certo. Poderia ter caído na lábia do mundo virtual. Aí sim, poderia esquecer desse maravilhoso universo.
− Mas como retornar a minha casa?meus pais devem estar preocupados.
− Vamos te levar para sua casa. Mas antes, vou te apresentar alguém,vem comigo.
Lara, o menino Pedrinho e a velha Coruja, continuaram a caminhada. Espantaram-se quando viram um senhor bem vestido. Usava uma boina imensa, mas tinha um rosto estranho, e chegando bem próximo deles, perguntou:
− O que fazem aqui nesta área?
− Sou Lara das letras! Esses são os meus amigos. Estamos procurando crianças para escutar as lindas histórias do meu amigo.
− O que? De novo isso? Não entendem que essa fase já passou? O livro já caiu nas garras do doutor tempo?
− Mas...
− Sou eu quem dito as regras mocinha! Sou o Senhor Analfa; o destruidor de projetos de leitura!
− Desculpe-me eu não sabia. -Falou Lara entristecida.
− No entanto, vocês podem passar para o meu lado! Conhecimento demais tira a paz! Faz mal para a mente! Deixa a gente exigente!
Nisso, desabafou Lara:
-Desculpe-me senhor, mas meu amigo precisa de ajuda, e quando temos amigos, nunca podemos abandoná-los!
− Escapou garotinha das garras da tecnologia, que lhe aprisionava noite e dia? E agora trouxe seus amigos para me desafiar? Saiam os três do meu território! isso é uma invasão!
E dona Coruja já nervosa, ajeitava pelos braços da Lara. E o menino puxava a Coruja.
− Vamos amiga, esse não quer nada com leitura! - gritou a velha Coruja.
Lara ficou muito desanimada, pois não imaginava que no reino das letras, existisse uma pessoa com pensamentos contrários. Insistindo o senhor Analfa ressaltou com gritos:
− Vou realizar uma grande reunião e vocês devem comparecer. Às nove horas, no pátio do velho casarão! Esse negócio de ensinar bobagem aos pequeninos, não vai mais acontecer.
Os três amigos se entreolharam, mas prosseguiram. Lara ficou pensando por alguns segundos e falou à sua amiga Coruja:
− Precisamos criar uma tática de formar leitores. Sim leitores mirins. Já imaginou um mundo sem livros?
− Eu não havia pensado nisso. Realmente você tem razão — Concluiu o menino ruivo.
Lara estava cansada e pediu ao garoto ruivo que lesse algo para ela. O menino sorrindo abriu seu livreto e iniciou a leitura. Quando terminou, Lara estava sentadinha numa calçada, admirada da forma em que o garoto se expressava.
− Muito bem Pedrinho! Você ler muito bem! O meu amigo,sr livro vai gostar de te conhecer. Queria saber ler desse jeito. Vamos voltar dona Coruja! Encontramos quem a gente queria. O menino ruivo, será o nosso primeiro leitor.
A Coruja ficou animada. E não demorou muito para que eles retornassem. Porém, quando chegaram, não encontraram o senhor livro. Ele havia sumido do mapa!
Lara preocupo-se e indagou;
− O que aconteceu? Tenho certeza que ele ficou aqui. Ele ficou descansando debaixo dessa árvore!
Entretanto, não demorou muito para que o senhor livro surgisse. Estava abatido e com suas páginas empoeiradas.
− Mas o que aconteceu meu amigo? Perguntou Lara aliviada.
− Estava procurando leitores mirins, ora! Ainda tenho força menina!
− Tenho um leitor para você, senhor livro. Esse é meu amigo. E quer escutar suas lindas histórias.
− Que bom minha amiga! Então sente-se aqui garoto. E você Lara, folheie minhas páginas. E essa deve ser dona sábia coruja!!ela pode nos ajudar e muito!
A coruja sorri timidamente.
Enquanto isso, a garota senta-se no chão e tirando as sapatilhas, destemida, folheia o livro gigante. Lara começou a conhecer algumas palavras que seu amigo lhe apresentara. De repente, saíam das páginas do livro várias palavras.
− O Senhor livro, muito sábio, começou a falar com empolgação:
− Vamos atravessar campos de textos enormes, do mais simples aos mais científicos. Sentir nas entrelinhas o aroma das sábias citações e dos mais eruditos ditados da língua portuguesa. Mas não se acanhe, estarei aqui para lhes orientar.
O senhor livro falava coisas difíceis de serem compreendidas. Mas Lara fantasiava que tinham valor. Ela só não imaginava que por detrás de uma leitura havia tantos mistérios e significados absolutos.
Nisso, uma palavra se apresentou. Ela tinha uma pose maioral.
Seu nome era
AMOR
Depois veio mais uma, e mais outra...
Palavras como;
MILAGRE,
GENEROSIDADE,
SOLIDARIEDADE,
DOAÇÃO,
ORAÇÃO.
E mais...
BOM DIAE,
BOA NOITE,
OBRIGADA, COM LICENÇA, DESCULPA...
− Venham crianças! Apresentem-se a menina Lara e seus amigos.
Ao som de uma música, as palavras se apresentavam a Lara e seus amigos, que ficavam tontos ao ver tantas palavras dançando e se apresentando num folguedo animado.
− Eu sou a palavra BORBOLETA... De mim nasceram muitas variações como:
BOTA, BOLA, BOLETO, ROLETA, LATE, ROLO, TALO, BOTE, BATE, BETA, ELO,
BELO, OLÁ, ALÔ, AL, BOBO, BOBA, BROTO, BROTA.
A palavra MÃE veio em seguida.
Depois o PAI, IRMÃOS, AMIGOS...
Saíam muitas palavras do livro enorme. Todas eram muito amáveis. Elas tinham paciência com a menina, compreendiam que ela ainda estava sendo alfabetizada.
Lara começava a conhecer um código que realmente a conduziria a seus primeiros passos para o mundo letrado.
Muitos foram as palavras que Lara descobriu. Ela começava a entender que dependendo da posição das letras, novas palavras eram formadas, mas ainda faltava o toque final. Então a garota desabafou ainda com algumas dúvidas:
− Ainda falta entender os seus significados!
Dona coruja ficou pensativa. Sabia que a parte dos sinônimos Lara aprenderia muito rápido, pois era uma menina esperta, só precisava se interessar.
E Lara olhando para as palavras indagou:
− Quando vou conseguir ler uma história?
D. Coruja sorriu e disse:
− Querida menina, agora que você já conhece as palavras, vais perceber que existem uma infinidade de textos por todos os lados!
Lara perguntou:
_Textos???
D. Coruja respondeu ainda sorrindo:
− Sim. Contos de Fadas, Fábulas, Contos tradicionais, Histórias em quadrinhos, Lendas, Parlendas e Estórias populares!
D. Coruja complementou:
− Agora estás pronta para conhecer o mundo inteiro através da leitura!
O senhor livro seguiu explicando a seus amigos que, quando as pessoas não sabem ler, tornam-se pessoas fáceis de serem enganadas.
A menininha ficou preocupada e disse que agora estava com muito medo. Mas dona Coruja a consolou dizendo:
− Não se preocupe amiguinha, aqui tudo se torna fácil.
Entretanto, no momento em que Lara estava distraída, o inimigo das letras chegou e a questionou;
− Olá Lara, sabia que aquelas palavras te enganaram?
− Como assim... Senhor Analfa?
− O que você quer dizer?
Elas fazem você pensar que já sabe de tudo...
− Mas eu já aprendi muita coisa...
Interrompeu o Senhor Analfa.
− Claro que aprendeu, só que ainda não sabe ler.
(Ele deu uma risada sinistra)
Nesse momento seu amigo livro intervém:
− Não venha entristecer a garota.
O senhor livro pega na mão de Lara e sai puxando-a pelo braço:
− Venha, vamos procurar a dona das ciências e das artes, a Dona Sabedoria.
Mas não foi preciso tanto esforço, porque chega nesse momento uma moça bela! Seus olhos eram expressivos e falava com elegância:
− O que você quer senhor Analfa? Nem pense em fazer tal reunião que estou sabendo!! Serás envergonhado em frente aos pais das crianças durante séculos e séculos!
− Oh não! A dona da verdade! Você veio para me derrotar? já tentei te vencer de diversas formas, mas não consigo! e sai furioso.
O Senhor Analfa sentiu-se derrotado, ele não tinha forças para dona sabedoria, ele sabia disso e caiu fora sem nem mesmo olhar para trás. O senhor livro aliviado, agradece-a.
− Você está quase conseguindo, continue assim! — Falou Dona Sabedoria abraçando a menina.
Lara ficou contente, sabia que agora podia contar com dona sabedoria e esqueceu daquele homem mal. Dona sabedoria era o anjo que faltava. E ela só pensava em proteger as crianças. O Senhor Analfa, era o grande vilão. E destruir, era o que sabia fazer.
Lara e seus amigos, estavam preocupados com o projeto que senhor Analfa desejava interditar. Mas Dona Coruja, após se reunir com os amigos, tivera uma brilhante ideia:
− Já sei! Vamos agrupar leitores mirins em seus lares, nas prateleiras esquecidas, debaixo dos travesseiros. Depois traremos eles para o reino das letras e trabalharemos com suas imaginações, logo teremos leitores assíduos e crianças letradas.
− Isso dona Coruja! -— falou o livro animado.
Lara e o pequeno ruivo se abraçaram felizes. O projeto teria novas mentes infantis. A parceria entre os pais e o universo das letras tinha que ser confirmada. Tudo para uma boa aprendizagem e a atenção redobrada nos estudos. Nada poderia impedir o plano de deter as crianças no mundo das letras. Lara e seus amigos conseguiram realizar o projeto finalmente.
Agora seria hora de ir pra casa. Declarou Lara quando percebeu que sua mãe devia estar preocupada. O reino era uma estrada diferente; cheia de letras, acentos e palavras espalhadas pelo chão. Pequenas casas iam se abrindo; e quanto mais passos eles andavam, aumentava uma claridade repentina. A menina espantada indagou:
− O que significa tudo isso, senhor livro?
Ele respondeu-lhe:
− Estamos passando por uma ala onde as letras ganham vida à proporção que você as conhece. A Dona Sabedoria as ilumina e você poderá escrevê-las e pronunciá-las sem medo.
− Dona Sabedoria é uma moça querida por todos, não é amigo?
− Sim. Ela tem me ajudado bastante.
A mocinha estava deslumbrada com aquele planeta que ela nunca imaginou que existisse. Iria contar aos seus pais o paraíso que conhecera. Agora ela sabia que tinha grandes amigos; o livro, o garoto ruivo, dona Coruja e a sabedoria.
Lara esperava um veículo para voltar pra casa. Ela se despedia de seus amigos. O menino ruivo também estava com as malas prontas, com livros novos. Iria pegar uma carona com Lara.
Tinha um formato de letra W, o veículo que acabara de chegar. O senhor livro acenou para seus amigos. Eles não queriam sair dali, mas o sonho havia acabado. Lara acordara feliz. Iria para a escola. Pediu a sua mãe que lhe trouxesse seus livros. A mãe sem entender, trouxe todos os livros da menina. A mocinha leu bem ritmada um texto pequeno. Estava na hora da mãe comemorar. Lara aprendeu a ler, agora era só praticar.
− Mãe, agora eu sei muita coisa que não sabia. Conheci o reino das letras. Sabe, ganhei amigos. Dona sabedoria é bela e inteligente, ninguém pode vencê-la. Mas lá, existe um homem muito mal que não deixa que a gente aprenda a ler e escrever. Dona Maria ficou escutando sua menina e acenando com a cabeça. Logo a pôs em sua cama. Sua mãe sorriu e abraçou a filha sem entender, pensou que fosse mais uma das histórias imaginativas da garotinha.E não passou muito tempo para que Lara aprendesse a ler direitinho. E com ela, nasceu um segredo:
O seu amigo livro voltou para antiga estante no sótão. Quando ela estava sozinha, subia as escadinhas e com prazer, escutava as belas histórias do amigo.
A garota aprendera a ler e a perceber, que um mundo sem livros fica sem graça. Lara não suportava mais a ideia de ficar sem ler bons livros.
Era hora de viver grandes aventuras sem sair de casa. E isso ela sabia fazer desde que começou a ser a maior amiga das letras.
Depois que conheceu seus amigos no novo mundo, Lara também aprendeu que com amigos reais a vida é muito melhor.
O menino ruivo lhe ensinou a ser um bom leitor, O senhor livro a despertou para conhecer as letras frente a frente, ela entendeu o quanto é importante saber ler e escrever. Dona sabedoria deu-lhe ótimas dicas de leitura e dona coruja abriu-lhe a mente para novas ideias. Até senhor Analfa mesmo sem querer, a fez aprender, a ver que existe coisas para impedir o crescimento, mas há sempre uma luz que brilhará, e no final tudo dará certo, basta que haja esforço. Lara teve muita ajuda dos amigos, ela soube cativá-los, quando procurou ajudar cada um deles com particularidade.
E você, tem também um amigo livro?
Quer esquecer o celular e entrar no universo das letras?
Leia, LARA E AS LETRAS.