Lamento de um Ser Desencontrado

Poemas | Antologia Neiva Guarienti Pagno e convidados - Momentos Inesquecíveis | Maria Fernanda Sousa
Publicado em 13 de Junho de 2024 ás 19h 08min

Nas sombras do meu ser encontro dor latente,
Um eco de erros, um fardo persistente.
Sou um rabisco, um traço a se apagar,
Um vulto de fraqueza no árduo caminhar.

Ao fitar o espelho, vejo tristeza refletida,
Uma alma perdida, de esperança desprovida.
Sou quero de quem me rodeia e me conhece bem,
Um grito silencioso, um lamento além.

Pergunto-me, sem achar razão ou propósito,
Na vida, sou apenas desacerto, o posto.
A cada tropeço, um erro me torno,
Um suspiro apagado, um sonho em abandono.

Queria ser apagada, como se nunca existisse,
Ser esquecida, dispersa, onde ninguém visse.
Um desenho mal traçado, prestes a se ir,
Ornamentando a vida com desejo de sumir.

Às mentes humanas, não trago bem algum,
Sou breu na constelação, sem brilho, sem alum.
Anseio por amor, mas não sou merecedora,
A vida que respiro, a vejo ingrata e desoladora.

Cada dia, uma arma que aponto ao coração,
Sou eu, minha juíza, em cruel execução.
Não me odeio, talvez devesse, afinal,
Nesta existência cinza, resido em dor abissal.

Sou lixo, sou poeira, resíduo a se varrer,
Um vulto que já pensa em não mais viver.
Na saga de existir, não sei por que estou,
Apenas erro, fracasso, um ser que se apagou.

Mas quem sabe, nas palavras que agora escrevo,
Alguém encontre vestígio de um novo relevo.
Talvez, no imenso caos onde me perco,
Há um fio de esperança, um segredo.

Afinal, somos todos fragmentos em construção,
Traços imprecisos, buscando redenção.
E quem sabe, ao final desta sinuosa via,
Encontre-me, vida, um sutil sopro de poesia.

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