Revisito as marcas que minha história deixou em cada passo  

Percebo que a vida me convida a novos horizontes, mesmo após tantas marés  

Recomeço onde menos se espera  

No olhar que ousa ressignificar o espelho  

Há uma pulsação de coragem entre cada batida do relógio  

E uma ternura discreta espreita a curva do tempo  

Abandono a culpa pelo que não vivi  

E abraço o agora que me acena como porto seguro  

Em cada perda, uma semente adormecida desperta  

As rugas guardam mapas que me guiam para dentro de mim  

Já não me reconheço apenas nas conquistas  

Mas nos tropeços que me ensinaram a navegar no mar da incerteza  

No limiar dos cinquenta, a vida é tão vasta quanto foi aos vinte  

E sinto que os sonhos esquecidos voltam a florescer nas sombras  

Abro janelas que um dia fechei por medo  

Renovo promessas que, na pressa, deixei se apagarem  

Transformar é me render à força do vento  

Que revela facetas guardadas em gavetas empoeiradas  

O passado não se desfaz, mas se aquieta numa moldura no canto  

Enquanto o presente tece seu próprio tecido de esperança  

Cada passo se constrói na confluência de todas as minhas versões  

Escolho ser jardineiro dos meus próximos dias  

Permito-me errar, chorar e rir sem a pressa de me julgar  

Acolho memórias como peças de um quebra-cabeça sempre incompleto  

Sorrio ao perceber que o recomeço não precisa de data certa  

Caminho em direção ao que pulsa e vibra, mesmo sem certeza  

Encontro na pele vestígios de transformações silenciosas  

Sou cúmplice do tempo que, generoso, me amplia  

Sendo testemunha de que sempre há tempo para florescer  

No instante em que escolho ser, outra vez, começo.