Janela

 

Da janela eu a vejo gritar

Atrás das grades do próprio cárcere frio.

 

Prisioneira do que arquitetou para si cuidadosamente,

como se faz um trabalho artesanal de crochê ou tricô: tessitura trabalhosa de dedicação constante.

 

A reviravolta no estômago

O enjoo no percurso;

como o viajor que sente náuseas e  rodar a cabeça em labirinto

Com as curvas da viagem.

 

(Que coisa Hem?)

Me sentia incomodada e desconfortável, com náuseas, ao ver as pinturas de Frida kalo, e agora sinto o mesmo com os meus escritos).

São as vísceras expostas que me incomodam...

E acho que entendo que é por isso que não gosto de comer carne.

Um animal comendo as vísceras fétidas do outro.

 

Ah...escrever talvez possa elucidar de alguma forma,

traçar um roteiro, ainda que sem destino.

 

Talvez permita-me ser livre de algum modo.

 

Mas afinal,

O que é que me impede de voar

De sair da margem

De viver em paragens menos densas

Mais leves e belas?

 

O que é que eu posso ver deste cárcere?

Parece que o barro e o lodo invadiram a entrada,

Como sair?

 

...quando era pequena, brincava de botas de barro...

 

Quem sabe?

...

Era costume, depois de brincarmos no poço de barro, nos lavarmos no riacho sereno, ...apesar do medo que tínhamos das cobras que apareciam por ali esporadicamente.

 

Olho novamente da janela e desconfio

que agora me encontro em lugar mais agradável,

mais seguro.

 

Ainda sem saber exatamente pra onde vou,

contudo,

estou na outra margem do rio.

                                                                        (Darcília Lebron)

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