INSPIRAÇÃO X TRANSPIRAÇÃO

               “Nem só de pão viverá o homem”, assim nem só de inspiração vive o poeta.

Não podemos ser radicais. A turma da inspiração contra a turma da transpiração. Isso é idiotice!

Cada um sabe de si e utiliza das ferramentas que lhe parecem úteis e necessárias. Se um escritor acha que somente a inspiração lhe basta, escreva o que lhe vem à mente.

Penso eu, se somente a inspiração bastasse não haveria necessidade das universidades relacionadas às letras, onde aprimora o cidadão para todo o conteúdo ligado à literatura, porque não seria necessário se aprender mais nada. A inspiração bastava.

No meu caso, particular, tudo o que eu escrevo somente com a inspiração parece coisa sem conteúdo, sem sentido. Somente eu entendo o que eu quis escrever. É necessário que eu mergulhe naquilo que escrevi, me aprofunde, pesquise até, para que surja algo pelo menos aceitável e que tenha nexo, com princípio, meio e fim e que todos possam entender. Nesse exercício adquiro novas fontes que me inspiram. Saio no lucro!

É um tema assaz polêmico. Minha opinião é somente minha. Sei que muitos aprovarão, mas, também, será criticada por tantos outros.

Para elucidar meu raciocínio, devo iniciar, como poeta que sou, utilizando uma metáfora. Poderia utilizar muitas outras, mas uma somente me basta. Um pescador vai ao rio em busca de um peixe para sua alimentação. Ao conseguir, leva-o para sua casa, onde o peixe receberá um tratamento especial: suas escamas, suas espinhas principais, suas vísceras serão retiradas, será cortado em postas ou tiras, ou filés, temperado, cozido ou assado, para depois servir como alimento. Ninguém retira um peixe do rio e o digere sem qualquer tratamento.

Assim são os textos literários, entre eles os poemas.

Eu ouso perguntar: uma pessoa que se serve apenas da inspiração, como irá compor um soneto que é cheio de regras? No mínimo ele terá que pesquisar o que é um soneto e isso já transcende a inspiração. Vamos dar um exemplo mais simples, como comporá uma aldravia, às vezes nem sabe do que se trata, pois tem preguiça de fazer transpirar o cérebro, como produzirá um cordel, um rondel, e outras variantes mais, poemas, cada qual com as suas regras?

Por isso é preciso que se tenha algum conhecimento, não necessariamente ser formado em Letras ou qualquer outro curso superior, mas que seja estudioso e não se renda ao simplismo de dizer “a inspiração me basta”!

Sejamos discípulos do eterno Santos Dumont quando dizia “Sou 10% de inspiração e 90% de transpiração.  

Refletindo sobre o tema vejo, ainda, que um poema somente à base da inspiração é belo, porém falta o vestido de noiva nessa maravilhosa dama! O garimpeiro encontra uma pedra e ela é bonita, tem o seu valor, porém, depois de lapidada e apresentada na vitrine de uma joalheria em um shopping a diferença é brutal. Assim é a nossa poesia, somente com inspiração e aquela, cuja inspiração vem revestida de transpiração!

Enoque Gabriel, Égamo

02/04/2024