Certa vez fomos catar algodão, nesse dia estava eu e minha irmã. O caminhão que levava a gente era um pau de arara. Saindo de Cruzeiro do Sul cerca de 5 horas da manhã com alguns trabalhadores e em Paranacity, distante 4 quilômetros, lotava. Sei que o algodoal era nas margens do rio Pirapó. Na hora do almoço, minha irmã me mostrou um senhor e disse que ele morava no hotel verde. Fiquei pensando como uma cara que mora num hotel vem catar algodão. Fomos especular e descobrimos que na verdade ele estava dormindo no mato, ou melhor na rua. Com a minha timidez de um adolescente de 15 anos calei-me e fiquei filosofando com os meus botões. Fiquei imaginando o que seria morar na rua e depois percebemos que o homem não tinha trazido nada para comer. Na hora do lanche da tarde dividimos o nosso bolinho frito com ele. Não conversamos mais. No dia seguinte ele não pegou o caminhão. Certamente recebeu o que trabalhou, fez uma refeição decente e seguiu seu caminho. Aquele era o primeiro contato com um sem teto e sem boia que tive. Isso deixou marcas. Hoje quando reclamo da situação em que me encontro lembro do homem do hotel verde e penso que sempre há alguém que está passando por algo ruim.
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Reclamamos muito da nossa via, ao invés de agradecer. gostei d a mensagem.
Rosi | 01/03/2024 ás 14:26 Responder Comentários