Há esquecimento que dói, sutil e profundo,
na trama complexa das horas, se perde.
São momentos e rostos, diluídos no mundo,
recordações que a memória não quer, mas cede.
Na gaveta empoeirada do passado remoto,
há risos e choros que não ecoam mais.
No coração, o silêncio é quase um grito,
de tudo que foi vivido e não se vive mais.
Há esquecimento que dói, porque transforma
tudo o que foi tocado em sombra e névoa.
A vida passa, e o que era forma
se desfaz em cinzas, como brasa à toa.
E mesmo sabendo que o esquecer é parte,
deste caminho que todos têm de trilhar,
cada memória perdida é uma arte
desenhada na alma, difícil de apagar.
Esquecimento que dói é esse espaço vago,
onde palavras amorosas se perderam.
É o vazio das mãos, o abraço que não tive,
o beijo que na memória não se escreveu.
Mas aprendo, a cada dia que passa,
que o esquecimento também é forma de cura.
E entre as dores que a memória desaça,
cresce a esperança, delicada e pura.
Porque mesmo na dor do que se esqueceu,
reside a promessa de um novo amanhecer.
Há esquecimento que dói, mas também ensina
que, para novas histórias viver, é preciso esquecer.