Fragilidade Bordada nos Suspiros

Crônicas | 2023/10 Antologia Corações Partidos | Matile Facó
Publicado em 20 de Janeiro de 2024 ás 16h 39min

Na cidade, onde as luzes da noite teciam sombras nos becos esquecidos, os corações dançavam no compasso frágil da vida. Não eram só órgãos pulsantes; eram relíquias de histórias não contadas, amores silenciados e despedidas dissolvidas nas esquinas poeirentas.

O tênue véu que cobre os corações partidos desenha-se em cada esquina, como se as próprias ruas compreendessem a narrativa de lágrimas não derramadas e abraços não dados. Sob as lâmpadas amareladas, os suspiros ecoam entre paredes que testemunharam romances que se desfizeram ao ritmo dos dias que escorriam entre os dedos.

Havia, na delicadeza de uma flor abandonada em um banco de praça, a representação de um coração despedaçado, de alguém que deixou uma parte de si no caminho. O vento, cúmplice da tristeza que permeia as noites solitárias, sussurrava segredos de corações partidos enquanto balançava as folhas caídas.

As cafeterias, refúgios silenciosos de melancolia, testemunhavam encontros que terminaram antes mesmo de começar. Nas xícaras vazias, residia não apenas a amargura do café frio, mas também a amargura de promessas não cumpridas, de juras que se perderam no vácuo do esquecimento.

Nas margens do rio sereno, onde o murmúrio das águas abraça os segredos da cidade, os corações desgastados flutuam como pétalas à deriva. Pedacinhos de histórias de amor são levados pela correnteza, desaparecendo no horizonte como as lembranças que tentamos esquecer.

A igreja antiga, com suas vidraças quebradas e bancos desgastados pelo tempo, abriga não apenas preces, mas também os ecos de juras eternas que foram quebradas. Os corredores silenciosos reverberam a saudade de promessas que agora são apenas cicatrizes na pele do tempo.

E assim, nos paralelepípedos gastos pelas passadas apressadas, nos grafites que contam histórias urbanas, nos suspiros que se entrelaçam com a fumaça dos cigarros, a cidade é um palco onde os corações partidos se apresentam silenciosamente, uma dança de vulnerabilidade e desilusões.

A fragilidade bordada nos suspiros é a essência que permeia as vielas e avenidas, um testemunho da efemeridade dos amores que um dia floresceram sob a luz da lua. E assim, enquanto os corações partidos são entrelaçados nas histórias urbanas, a cidade, imperturbável, continua a pulsar, guardiã silenciosa de segredos que ressoam nas sombras das noites solitárias.

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