Você tem fome de quê?
Tenho fome de silêncio
Quando tudo é barulho
Tenho fome de justiça
Tenho fome de dignidade e decência
Quando tudo parece ser demência
Quando tudo é desatino
Tenho fome de prudência
Tenho fome de perenidade
Quando tudo é tão fugaz
Tenho fome de paz
Quando tudo é intolerância
Tenho fome de alegria
Enquanto meus olhos
Cansados choram pela dor
Dor que sufoca o peito
Aperta o coração
Aflige sentimentos
Ignora solução
Lateja por dentro
Tenho fome insaciável de empatia
Quando tudo ao redor é utopia
Tenho fome de simplicidade!
Tenho fome de experiência
Quando tudo é de aparência
O ser já foi devorado pelo ter
E o bem-querer pela ausência
Tenho fome de promessas não cumpridas
Em meio de tantas palavras perdidas
Perdidas dentro de nós, soltas ao vento
Tenho vontade de bradar
Mas me calo modorrento
Pois a fome atroz que habita em mim
Devorou-me por inteiro
Em um ato antropofágico consciente
Minha fome me consome
Come a minha mente.
Tenho fome de tudo que é essencial, de fato
E é comido antes que chegue ao nosso prato.
Livro: A sombra dos cinamomos