FOGO NO NORTÃO
É chegado o mês de agosto
Aqui no nosso Nortão
Colheita finda, já no Posto
Palha seca, sol ardente, preste muita atenção.
Tudo junto, misturado
Um campo em ebulição
Fumaça vista ao longe
Já assusta o coração
Faísca vinda com o vento
Transforma em fogo a vastidão
Veste a lua de vermelho
Assusta bicho, pião e inté patrão
O fogo pula o aceiro
Passa a cerca, corre no chão
Trepa nas árvores, balança os braços
Pula o corgo, ninguém segura mais não
Morrem os bichos lá no mato
Queimados ou por inalação
Chora o caboclo desesperado
Com dó do seu barracão
Não sabe o que foi ao certo
Que começou essa danação
“Mas desta vez passou bem perto"
Grita a mulher com emoção
Chove chuva, rezam os velhos
Nos acuda, oh Deus, Perdão
Fim do mundo dos evangelhos
Nada salvou da criação
Terra nua, devastada
É o que sobrou na imensidão
Enegrecida, quente, abalada
Um crime horrendo nesta Nação.
Obs: Esta poesia foi publicada no livro Além do primeiro olhar. 2021 Editora Ações Literárias.