Fim da Escala 6x1

Crônicas | Carlos Onkowe
Publicado em 01 de Agosto de 2025 ás 20h 02min

Há um silêncio que grita nas fábricas, nas lojas, nos terminais de ônibus às cinco da manhã. É o silêncio do corpo que aprendeu a acordar mesmo quando ainda sonha, e que não se permite parar, nem para se ouvir.



A jornada é longa, seis dias, mas o que se perde nela não se recupera no sétimo. Não há cura possível para a exaustão crônica de quem entrega sua semana inteira para um patrão que só reconhece números. E quando finalmente chega o “um”, ele não é domingo de sol, nem tarde de rede, é dia de contas, fila, faxina, ou um cansaço tão profundo que só pede cama.



Há uma dor coletiva escondida nesse modelo: o tempo que não se vive, o filho que não se vê crescer, o afeto que se adia, o sonho que não se sonha. A escala 6x1 é mais que uma matemática injusta, é a medida da desumanização cotidiana.

Mas há, sim, algo que pulsa. Uma recusa crescendo entre os dedos calejados da classe trabalhadora. Um sussurro que vira canto, que vira grito: queremos viver, não apenas sobreviver. Queremos tempo para existir fora do relógio-ponto, queremos domingo de verdade, queremos o direito ao respiro, ao ócio, à dignidade.



E essa luta, que brota de cada esquina deste Brasil imenso, já é também uma forma de descanso: descanso do medo, da submissão, da resignação. Porque quando o trabalhador se ergue, mesmo que exausto, o sistema todo treme. E então, talvez, um novo tempo comece a nascer, mais justo, mais humano, mais nosso.
 

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