FELIZES PARA SEMPRE

Contos | 2025 - JUNHO - Chamas do coração: poemas e histórias de amor | Isolti Cossetin
Publicado em 27 de Fevereiro de 2025 ás 12h 19min

FELIZES PARA SEMPRE

Desde pequena, Nadine tinha um brilho nos olhos que fazia com que todos à sua volta acreditassem que ela seria capaz de alcançar qualquer sonho. Nascida em uma pequena casa no interior, com paredes de madeira e telhas de barro, sua infância era marcada pela simplicidade. Mesmo em meio à pobreza, ela cultivava uma imaginação rica. Em suas brincadeiras, via-se vivendo em um castelo de sonhos, cercada por sorrisos, festas, e um futuro repleto de felicidade.

“Um dia, vou crescer e ser alguém importante. Vou viver rodeada de amor e de pessoas que me façam sorrir sempre!”, prometia a si mesma ao contemplar o céu estrelado à noite e ao observar as nuvens em dias ensolarados. Naquelas formas ela via castelos, príncipes, fadas e muita felicidade.

Quando chegou à adolescência, porém, a realidade começou a se mostrar muito diferente dos seus devaneios de infância. Seus pais, humildes lavradores, pouco podiam lhe oferecer além de conselhos e apoio moral. Nadine sabia que, para estudar, teria que trabalhar. Conseguiu um emprego como doméstica e babá em uma casa de família na cidade, em troca de comida e um quarto para dormir. Enquanto limpava, cozinhava e passava roupas, seus sonhos se distanciavam, e a menina radiante de antes começou a entender que a vida não seria tão mágica quanto imaginava. Então, seu foco era estudar para um dia sua realidade mudar.

A adolescência passou tão rápida como as nuvens que ela observava quando criança. Já jovem, Nadine conheceu Tony. Ele não era o príncipe encantado dos contos de fada que ela imaginara, mas havia algo nele que a fazia acreditar no amor. Tony era simples, pobre como ela, mas tinha o coração cheio de sonhos e a mente cheia de versos. Gostava de recitar poesias para ela nas tardes de domingo, enquanto caminhavam pelas ruas da cidade. Juntos, construíram momentos que ela pensava serem eternos.

Porém, a vida tinha seus próprios planos. Nadine conseguiu entrar na universidade, algo que para ela era a realização de um grande sonho. Foi um período de descoberta, mas também de sacrifícios. O tempo, as responsabilidades e as distâncias acabaram por afastá-la de Tony. Eles se amaram o quanto puderam, mas a rotina os venceu, e ele se foi, deixando nela um vazio difícil de preencher.

Outros amores vieram e logo partiram, como ventos que sopram rápido e deixam apenas a lembrança de uma brisa suave. Nadine começou a perder a fé nos contos de fada, mas o desejo de encontrar o “felizes para sempre” ainda estava vivo. Então, ela conheceu Narciso. Ele parecia ser o que ela tanto esperava: bonito, gentil, charmoso e com palavras doces que pareciam carregar o calor do amor verdadeiro. Nadine pensou, por fim, ter encontrado o príncipe dos seus sonhos. Aquele com quem desejava viver por toda a sua vida.

Esse deslumbramento durou apenas nos anos de namoro. Assim que iniciaram a vida a dois, ele não era mais aquele homem por quem ela tinha se apaixonado. Narciso era um lobo em pele de cordeiro. Com o tempo, seu verdadeiro caráter começou a aparecer. O homem que antes parecia tão gentil se revelava possessivo, controlador, ciumento. As palavras que antes a encantavam agora eram usadas para ferir. O sorriso de Nadine foi murchando, sua alegria esmorecendo. Seu olhar, antes radiante, agora estava opaco, sem vida. As cores de sua vida foram apagadas, e os dias se tornaram sempre cinzentos e frios. Ela não vivia mais; apenas sobrevivia. Os anos de sofrimento a transformaram em uma sombra do que um dia fora. O príncipe encantado havia se tornado o pesadelo do qual ela parecia nunca acordar.

Nadine foi feita refém de um relacionamento tóxico, envolta em um ciclo de dor e humilhação. Entrou num sono profundo do qual acreditava não mais acordar. Cada tentativa de sair era recebida com ainda mais violência física, financeira, social, emocional e psicológica. Ela se sentia presa em uma gaiola invisível, onde a dignidade, o amor-próprio e a esperança haviam sido gradualmente arrancados.

Até que, certo dia, ao olhar-se no espelho e ver a figura triste que se refletia, decidiu que não podia mais continuar assim. Decidiu que era cedo demais para ter sua vida ceifada pelas mãos de quem deveria amá-la, protegê-la, defendê-la. Reuniu forças que nem sabia que ainda possuía, e com o pouco de coragem que lhe restava, resolveu abrir a porta da gaiola. Fugiu, deixando para trás o que parecia ser uma vida inteira de sofrimento. Saiu em busca de algo que havia perdido: sua paz, sua alegria, seu direito de ser feliz.

A estrada para reconstruir-se foi longa e cheia de desafios. Mas, ao longe, Nadine começou a vislumbrar o brilho de uma nova esperança. Aprendeu que o “felizes para sempre” não vem de príncipes ou castelos, mas de encontrar a si mesma, de valorizar o que realmente importa. Recuperou, aos poucos, a cor nos olhos, o brilho no sorriso, e a liberdade de ser quem sempre sonhou.

Agora, ela caminha pela vida de cabeça erguida, espalhando risos, abraços, carinho, sabendo que, apesar das cicatrizes, a força que descobriu dentro de si a levará a lugares onde a verdadeira felicidade – aquela construída com amor-próprio e coragem – a espera.

 

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