Eu queria escrever sobre coisas bonitas
Crônicas | 2024/7 Antologia No ritmo da poesia | Mariana BuenoPublicado em 30 de Julho de 2024 ás 07h 41min
Quando as águas de março chegaram fechando o verão, já era abril e já era outono. Escrevi e salvei esta frase ano passado para fazer uma poesia que nunca veio. Rascunhos que faço durante viagens, sozinha em um quarto de hotel, na mesa do restaurante, parada em uma esquina qualquer.
A poesia abre uma janela, uma porta, às vezes abre a casa inteira. Faz a luz entrar, traz um pouco de vento, traz vida. Ao ser lida, faz enxergar o que antes não víamos. Ao ser escrita, ajuda a colocar para fora os sentimentos – fica mais fácil lidar com eles quando estão fora da gente.
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Escrever sempre foi minha válvula de escape, minha diversão preferida, meu lazer. Desde pequena.
Cresci em meio às palavras, migrando das folhas soltas e mal recortadas para os cadernos, depois para os diários/agendas preenchidos com canetas de muitas cores, passando pelo disquete, pelo pen drive, pela nuvem, pelos sites, até voltar ao papel com minhas publicações.
Ainda hoje, no computador ou no papel, nos rascunhos do bloco de notas no celular, em palavras publicadas ou impublicáveis, é uma forma de organizar o emaranhado de pensamentos que de repente se alojam na cabeça. De externar minhas perplexidades. De processar o que não entendo, o que não aceito. De registrar memórias, também.
Às vezes, poesias e textos completos. Outras vezes, frases soltas que ficam para sempre anotadas sem nunca terem uma utilidade além daquela do momento no qual foram escritas. Precisa ter? A poesia não é útil, é necessária. Ainda que dura.
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Eu juro que queria escrever sobre coisas bonitas. Escrever de um jeito mais sensível. Mais doce. Mais leve. Queria até usar a palavra bonitezas, que acho que soa melhor nesse sentido.
Queria endurecer sem perder a ternura, como Ernesto. Ou, como Milton, falar da cor dos temporais, do céu azul, das flores de abril.
Mas minha escrita sempre veio de um lugar de questionamento, de angústia. E talvez seja um estilo. Se eu fumasse ou bebesse café ia combinar bem, mas nem isso.