Etiqueta Vencida
Apanhei da vida,
não só com mãos,
mas com ausências,
com silêncios que cortam
mais do que gritos.
Demorei pra entender
essa verdade que ninguém ensina:
as pessoas não se importam com você,
se importam com o que você entrega.
Enquanto serve, você é ouro.
Quando cansa, vira peso.
E o amor que parecia eterno
tem prazo curto e endereço incerto.
Fui útil, fui apoio, fui escudo.
Mas quando precisei,
fui ruído, fui resto, fui nada.
Me jogaram como quem descarta,
sem olhar pra trás,
sem perguntar se doeu,
sem saber que eu ainda respirava.
Mas eu não sou lixo.
Sou feito de carne, de alma,
de sonhos que resistem
mesmo quando o mundo não vê.
E se hoje sangro em palavras,
é porque sobrevivi.
E sobreviver, às vezes,
é o único ato de amor próprio que resta.
Silvia Santos