ESTUDO DE METALINGUIAGEM
Análise de obras | Lorde ÉgamoPublicado em 26 de Junho de 2025 ás 14h 55min
A metalinguagem utilizada por poetas populares norte-mato-grossenses:
Uma abordagem da Folk Linguistics
SETÍGONO DO ESCREVER
Escrever é gritar
é dizer com habilidade
o que não se consegue falar,
falar do momento que se vive,
das frustrações da humanidade
é rasgar de vez o verbo
sem precisar alçar a voz!
(Autor: Lorde Égamo)
Neste poema, denominado setígono, o autor apresenta o uso da metalinguagem já no primeiro verso “Escrever é gritar”, uma linguagem simbólica com a qual explica o que é escrever para um poeta. O grito é expresso por meio da escrita, visto como as angústias da vida talvez, aquilo que se quer ou precisa comunicar. Essa é a linguagem do poeta, a escrita.
Assim, utiliza a modalidade escrita para reforçar a própria prática linguística. O termo “falar” é retomado em alguns versos para enfatizar a necessidade do uso da linguagem pelo poeta.
Este se detém cuidadosamente na sua habilidade de se expressar na poesia. Entende-se que a linguagem (natural ou formalizada) serve para descrever ou falar sobre uma outra linguagem, natural ou artificial, conforme o Dicionário eletrônico Oxford language, isto é metalinguagem.
Portanto, há o reforço do ofício do poeta que lida com a escrita e esta escrita se torna sua própria fala. O poeta pode falar de tudo e, também, se manter calado. Ele possui habilidade de lidar com a escrita, por isso pode “rasgar de vez o verbo” denotando ambiguidade ao utilizar recurso metalinguístico (fala e escrita). Para finalizar, o autor escreve “Sem precisar alçar a voz!”. Essa é a maneira de o poeta utilizar a linguagem, ele grita por meio da escrita, não precisa levantar a voz para ninguém nem para nada. A sua voz (fala) é a escrita (poesia). A escrita é primordial para seu ofício, escrever poesia, se expressar por meio dela.
Elisangela Dias Saboia (Sorriso-MT)-professora e doutoranda
OBRA: Estudos em Linguística popular/Folk Linguistics no Mato Grosso: aprofundamentos (páginas 163 a 172)
Editora Letraria
Comentários
Parabéns!! PURA VERDADE ESCREVER É GRITAR MSM!!
SERGIO EDUARDO DA SILVADa Silva | 26/06/2025 ás 16:18 Responder ComentáriosBelíssima análise a respeito da fala poética, o eu lírico que utiliza a metáfora, o eu lírico que rasga o verbo, suja o vernáculo e grita com ousadia a alma em forma de poesia, parabéns!
Keila Rackel Tavares | 26/06/2025 ás 16:24 Responder ComentáriosLindo poema gostei muito
Maria Lurdes | 26/06/2025 ás 16:37 Responder Comentáriosaula simples e perfeita e o poema maravilhoso.
Léo Franco | 26/06/2025 ás 16:46 Responder Comentáriosum primor! tanto o poema quanto a análise. é sempre um verdadeiro bálsamo ouvir/ler preciosidades da nossa literatura. Parabéns pelo trabalho. E parabéns ao poeta pelo setígono cheio de belezas.
Noi Soul | 26/06/2025 ás 18:13 Responder ComentáriosA escrita é a fala do poeta. Muito forte essa expressão. Parabéns
ADAILTON LIMA | 28/06/2025 ás 07:50 Responder ComentáriosParabéns pela belíssima análise, o poema é realmente uma obra-prima. A escrita poética não se limita apenas à transmissão de ideias, mas também à busca pela beleza e expressão estética da linguagem!
Edson Bento | 28/06/2025 ás 20:49 Responder ComentáriosO poeta fala, grita, sussurra, gesticula e cala usando apenas palavras..
Liliane Inácia da Silva | 24/07/2025 ás 20:25 Responder Comentários