Querido, escrevi tantas versões
De tudo que jamais pude dizer
Fui amante das entrelinhas mudas
Das frases que morriam no papel
Cada rascunho queimava por dentro
Como se escrever fosse me trair
Mas mesmo assim, insisti na memória
De um amor que jamais se revelou
Talvez fosse medo de tua recusa
Ou medo maior: tua aceitação
Porque se viesses, eu não saberia
Onde esconder a verdade dos olhos
Ficamos presos num tempo possível
Mas não vivido, só sonhado e guardado
E essa carta, enfim, é só pra mim
Pra lembrar o que fui sem ter sido
Com verdade oculta, Eulália. 9 de junho de 2025