Querido, às vezes te escrevo no ar
Desenho teu nome com o olhar calmo
Como quem tenta bordar o impossível
Na transparência da tarde vazia
Teu rosto volta sem pedir licença
Nos vidros, nos livros, nas almofadas
A saudade é artista das aparições
E tu és seu quadro mais recorrente
Não te procuro mais como antes
Mas ainda te encontro sem querer
Talvez isso seja o que restou
Do tanto que fomos sem saber ser
Se amar é estar mesmo sem estar
Então ainda estamos, de certo modo
Mesmo que só um de nós insista
Te guardo onde nada me rouba
Com memória rendada, Eulália. 7 de junho de 2025