Amado, houve um dia em que notei
Que tu me olhavas como quem já foi
Teus olhos vagavam entre os objetos
Como quem busca uma desculpa e parte
Tuas palavras tinham peso novo
E teus silêncios ganhavam contorno
Eu, por dentro, já pressentia tudo
Mas sorri como quem guarda um segredo
Há dores que nascem antes do corte
E amores que terminam no abraço
Preferi não te perguntar nada
Para que não dissesses em voz alta
Fiz de conta que nada estava errado
E deixei tua sombra cruzar a porta
Desde então, escrevo para suportar
O que não tive força de impedir
Com coragem velada, Eulália. 5 de junho de 2025