Meu Amado,

Não sei se algum dia estas palavras chegarão aos teus olhos, mas não me é dado calá-las. Desde o instante em que te vi, desde aquele primeiro olhar que se demorou além do que era prudente, algo em mim se dissipou para sempre. Fui tomada por um ímpeto que desconhecia, uma vertigem doce e terrível, como se houvesse tropeçado na eternidade. Nunca me foi permitido crer em acasos, no entanto, ali estava eu, diante de ti, sentindo que o próprio tempo hesitava.

Tudo em ti era encanto e perdição. Havia no teu semblante um enigma que eu quis decifrar, mas o preço do entendimento era a condenação do meu próprio sossego. Falaste-me com a suavidade de quem ignora o próprio poder, e eu, tão incauta, me rendi a cada sílaba, como se nelas repousasse um destino já traçado. Nada precisavas dizer para eu saber: estava perdida.

No entanto, mesmo ante a grandeza desse sentimento que me tomou sem aviso, uma sombra se interpunha entre nós. Não era o medo, tampouco a dúvida, mas sim a cruel certeza de que chegara tarde. O universo, com sua ironia impiedosa, te concedera a outro tempo, a outra história, e a mim, restava apenas a consciência de que, por um instante, fomos um desencontro perfeito.

A razão me ordenava que me afastasse, que apagasse a memória do teu olhar, mas como sepultar aquilo que se tornou parte da própria alma? Se fecho os olhos, és ainda a imagem que dança sob minhas pálpebras; se respiro, o ar traz vestígios da tua presença, como se a vida, num capricho impiedoso, quisesse lembrar-me de que te amei sem permissão.

E agora, escrevo sem esperança de resposta, sem alento de consolo, apenas para que saibas — ainda que nunca leias — que teu nome será, para sempre, a prece muda que sussurro ao vazio.

Tua eternamente,

Eulália