No relógio, o tempo escorre,
feito sangue em pensamento.
Noventa e cinco por cento é sombra,
cinquenta por cento é alento.
A lógica, fria, sussurra:
“Prepare-se, o pior virá.”
Mas o coração, teimoso,
insiste em acreditar.
É como andar numa ponte
que range a cada passo:
um lado afunda no medo,
o outro espera um abraço.
As mãos guardam segredos,
os olhos caçam sinais;
o peito, campo de guerra,
entre os porquês e os porquês.
E se for dor?
E se não for?
E se a sorte mudar o tom?
E se o impossível ousar
e se tornar quase bom?
Ninguém explica direito
como é viver nesse meio:
onde a esperança é faísca
e a angústia, manto inteiro.
Mas sigo, sem escolha, sem calma
na espera que nunca espera:
entre um quase inevitável
e uma chance que ainda impera.