Entre as Linhas do Encanto Poético

Crônicas | 2023/1 - Antologia Encantos Poéticos | Matile Facó
Publicado em 20 de Janeiro de 2024 ás 16h 29min

Era um daqueles dias em que o sol, tímido, se escondia por trás das nuvens que pareciam acariciar o céu. O vento sussurrava segredos nos galhos das árvores, e o mundo, em sua simplicidade, preparava-se para revelar seus encantos poéticos.

As ruas da cidade, abraçadas pelo silêncio que só as tardes tranquilas oferecem, eram como páginas em branco esperando ser preenchidas por versos invisíveis. Entre o vai e vem dos passantes, havia uma dança suave de cotidianos entrelaçados, uma coreografia única e ininterrupta.

Numa praça recôndita, bancos de madeira convidavam à contemplação. Ali, sentada, uma mulher de olhos que pareciam guardar as histórias de várias luas folheava um livro de poemas, seus dedos dançando pelas palavras como se cada uma fosse uma nota em uma partitura celestial.

O perfume das flores, disperso no ar, mesclava-se com a tinta invisível das rimas que flutuavam ao redor. Crianças brincavam num ballet espontâneo, suas risadas melodias leves que acompanhavam o murmúrio do riacho nas proximidades.

O encanto poético não se limitava às palavras impressas. Estava nas entrelinhas das conversas sussurradas nos cantos dos cafés, nas pinceladas dos artistas de rua que transformavam o cinza do asfalto em um arco-íris efêmero. Cada gesto, cada olhar, era uma estrofe desenhada na partitura viva da vida cotidiana.

À medida que o dia se despedaçava em tons de crepúsculo, as luzes da cidade se acendiam, criando um cenário de lucidez onírica. Uma violinista solitária, seu instrumento como extensão da alma, ecoava notas que se perdiam no horizonte, como se a própria noite as acolhesse com um abraço.

Nos becos e vielas, onde a poesia se manifestava nas sombras, casais de mãos dadas caminhavam sob a luz das estrelas que começavam a pontilhar o céu. O brilho dos lampiões de rua era como versos iluminando caminhos desconhecidos, enquanto o eco de risos e suspiros preenchia os espaços vazios.

A cidade, à medida que a noite avançava, tornava-se um livro de contos aberto, cada rua uma página a ser desvendada. Os encantos poéticos persistiam, como uma sinfonia que transcende o tempo, permeando a existência daqueles que estavam dispostos a enxergar para além das aparências.

E assim, entre a luz suave do luar e a melodia das estrelas, a cidade seguia seu curso, tecendo poesia nas horas calmas da noite. A mulher dos olhos guardiões fechou seu livro, levantou-se do banco, e, com passos leves, desapareceu na penumbra, deixando para trás o eco de sua presença, um verso a mais na poesia eterna da cidade.

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