ENTRE A RAZÃO E O CORAÇÃO

Contos | Lorde Égamo
Publicado em 22 de Agosto de 2022 ás 11h 03min

 

                                    

 

                               

    Entre a Razão e o Coração

        Em Vasconcelos, cidadezinha bem discreta, nos rincões do interior de Minas, vivia uma família oriunda do Maranhão e ali criou raízes.

        O chefe da família diante de um infortúnio em sua saúde sucumbira, porém não deixou a família, composta por sua esposa, dona Fátima e sua filha única, Emília, em apuros, a passar dificuldades. Era próspero e conceituado comerciante. Tinha um bazar, estilo armarinho, onde vendia de tudo um pouco. Como a cidade era pequena, pouco mais que um vilarejo, vendia desde bijuterias, produtos que serviam de adorno para as mulheres em geral, esmalte para as unhas, tintura para os cabelos etc. Também vendia livros, cadernos, lápis, canetas, ainda atendia as costureiras e os alfaiates com suas linhas, botões e agulhas etc.

        As duas mulheres, mãe e filha, continuaram o negócio da família. Amavam o patriarca. Sofreram com seu passamento, mas não se desesperaram. Não se deixaram abater. Conseguiram uma funcionária de confiança e assim,  ali prosperavam.

        Emília, uma bela moça, cortejada pelos galantes rapazes da cidade, acabara de se formar professorinha de primeiro grau, pois cursara no ensino médio, o Magistério, que noutros tempos se chamava Escola Normal, daí o conhecido termo “As Normalistas”. Foi aprovada em concurso público e passou a lecionar na Escola Municipal Professor Andrade e Silva, a única da cidade. A garota era muito esforçada. Só tinha cabeça para seus estudos e ingressou na Faculdade de Pedagogia, pois queria ascensão profissional e nas horas vagas se aventurava como fotógrafa amadora. Queria dar aulas para o ensino médio e depois, quem sabe, para o ensino superior e se especializar no campo das imagens.

        Juntou-se a mais quatro amigas e viajavam todas as noites por uma estrada vicinal, para respectivas aulas na Faculdade de Filosofia e Letras, que ficava numa cidade maior, que dali distava cerca de 80 quilômetros.

        Havia também, oriundos dos fundadores da cidade uma família abastada, possuidora de muitos bens, como fazenda, imóveis de aluguéis etc. Um dos filhos dessa família cujo nome era Vinícius, cursava Odontologia e seu pai já tinha como projeto montar para ele um consultório odontológico. O rapaz estudava em uma faculdade na Capital de São Paulo e pouco vinha a cidadezinha. Em uma de suas andanças em férias, estando na cidade passou a frequentar os lugares onde, coincidentemente ou não, a moça frequentava, como igreja, clube da cidade, quando se engraçaram um pelo outro e passaram a namorar. Formavam um belo casal e todos na cidade adoravam a dupla. Tão logo o rapaz se formou, seu pai para ele montou um consultório odontológico, o mais bem frequentado da cidade. Ficaram noivos e começaram  a montar seu futuro lar, em uma das casas que o pai do rapaz presenteara e, para alegria de todos, já marcaram a data do casamento. Todos os que os viam se sentiam atraídos por tamanha felicidade que irradiava do belo par.

        Certa noite, escura e estranha noite, Emília e suas amigas saíram da faculdade e em seu fusquinha dirigia pela estrada escura retornando a Vasconcelos, quando, repentinamente, apareceu em uma curva outro carro em direção oposta com 3 rapazes que vinham de uma festa e se dirigiam à fazenda da qual eram peões. O motorista perdeu a direção. O inevitável choque brutal aconteceu. Ali jaziam prostradas quatro moças inertes como também mortos estavam os três rapazes do outro carro. Emília foi jogada para debaixo do banco do passageiro onde ficou com as pernas presas nas ferragens. Ficaram ali até o dia amanhecer quando apareceram as primeiras ajudas. Não é necessário que eu diga que o clamor na cidade foi geral. Não se chorava pelos rapazes, mas sim, pelas quatro professoras que morreram em dor atroz. O padre da capela matriz abriu as portas da igreja para que ali fossem veladas. Fecharam-se as portas para os três rapazes mortos, pois foram tidos como responsáveis pela tragédia. O prefeito decretou luto oficial por 7 dias.

        Emília, que foi jogada para debaixo do banco, teve problemas na medula. Foi salva, mas uma grande sequela a acompanhou pelo resto da vida. Ficou paraplégica. Que tristeza! Ela que estava noiva com dias marcados para seu enlace matrimonial. E Vinícius, seu noivo, o que se deu com ele? Vinícius postergou o casamento e durante um ano prestou toda solidariedade  possível até vê-la “restabelecida” e comprou para ela uma cadeira de rodas motorizada, que seria sua companheira para o resto da vida.

Depois de um ano as visitas de Vinicius começaram a ficar escassas, quando de repente ele aparece diante de todos, de braços dados, com outra moça, de uma cidade vizinha. Dias depois casara-se e sua esposa lhe deu dois belos filhos.

        Emília resolveu fazer curso de fotografia, ela que já gostava da arte. E passou a ser a fotógrafa oficial de todos os eventos da cidade e de toda a região, inclusive foi ela quem fotografou, filmou e deu todo o suporte da natureza ao casamento de Vinicius.

        Algumas pessoas da cidade comentavam qual seria a razão que Vinícius usara como justificativa para não permanecer com Emília e indagavam pelos cantos da cidade: Caso se desse o contrário, Emília o teria abandonado? Eis o grande dilema envolvendo a razão e o coração!

 

 

Comentários

A história é maravilhosa, porém, acho que não era amor verdadeiro!

edbento | 22/08/2022 ás 19:25 Responder Comentários
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