"Entre a Fogueira e o Silêncio"

Contos | 2025 - JULHO - Noites de inverno: poemas contos e crônicas à beira do fogo | Rose Correia
Publicado em 15 de Março de 2025 ás 00h 24min

"Entre a Fogueira e o Silêncio".

 

Atentamente, observava os vagalumes que clareavam ainda mais a noite de luar. Enquanto as crianças brincavam ao redor da fogueira, os jovens se alegravam com músicas típicas e danças. Os anciões, sentados em banquetas, narravam contos antigos, prendendo a atenção de um pequeno e alegre grupo.

 

As noites pareciam mais longas e, para muitos que ali estavam, eram noites alegres, cheias de vida: música, dança, comidas típicas, bandeirinhas, fogueira, balões coloridos subindo ao céu… Um arsenal de possibilidades que deixava tudo mais bonito e atrativo.

 

Porém, ela permanecia observando ao longe. Estava cercada de pessoas, porém sozinha. Vez ou outra, alguém a tirava para uma dança, que educadamente aceitava. Havia sido ensinada conforme os padrões, e rejeitar não estava dentro deles. Mas logo se achava sozinha novamente.

 

Havia momentos em que não ouvia os sons; conseguia apenas perceber o piscar dos vagalumes, o estalar das fagulhas que saíam da fogueira e o balançar suave dos balões de papel, que flutuavam na noite estrelada. Ouvia o silêncio da noite, mesmo estando tomada pelo barulho. Então, retornava à sua realidade ao ouvir alguém dizer:

 

— Concede-me esta dança, minha donzela?

 

Ela estendia a mão e rodopiava no salão, como rodopiava em seus pensamentos. Girava, girava, mas nunca se encontrava. A cada passo, sentia-se cada vez mais deslocada, como se estivesse apenas cumprindo um papel, seguindo um ritmo que não era o seu.

 

Perdida no meio da multidão, sem entender por que se sentia tão diferente, percebeu que não era a música que a afastava, nem os passos, nem os outros. Era algo dentro dela.

 

Não conseguia se encaixar, por mais que tentasse. Até o dia em que resolveu parar de tentar.

 

Ouviu seu coração.

 

E, no silêncio que antes a inquietava, encontrou a resposta.

 

Para se encaixar, precisaria primeiro se conectar consigo mesma.

 

Naquela noite, ao invés de apenas rodopiar no salão, ela começou, enfim, a dançar.

 

Ela está evoluindo…

 

 

 

 

Conto. Rose Correia.

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