BREVÍSSIMO ENSAIO SOBRE A CATADUPA
Jaque Monteiro
ORIGEM
A Catadupa é um estilo poético criado por Jaque Monteiro em torno de 2009/2010, mas só se tornou pública na primavera (setembro) de 2025.
PRIMEIRA GERAÇÃO DE CATADUPISTAS
A primeira pessoa a tomar conhecimento da Catadupa foi noi soul, que logo quis experimentar. Gostou e levou a proposta para o seu Projeto Pulsão Poética, onde mais pessoas aderiram à experiência. Foi neste momento, outubro de 2025, que nasceu a I OFICINA DE CATADUPAS DO BRASIL – 2025, uma parceria entre a criadora, Jaque Monteiro, coordenadora e ministrante da Oficina, e noi soul, que passou a ser a Madrinha da Catadupa e coordenadora da Oficina.
Com alegria destaco as primeiras e os primeiros Catadupistas do Brasil, formados nessa Oficina:
Adailton Lima (BA), Carlos Onkowe (SP), Eidi Martins (MT), Giovanna Barros (CE), Magno Assis (MG), Mari Rima (BA), noi soul (BA), Patuska Quokka (DF), Pedro Garrido (RJ), Renato Lannes (RJ).
Eles acolheram a Catadupa e produziram vários poemas, um material incrível, um acervo riquíssimo e diversificado! São as primeiras Catadupas do Brasil, depois das
Catadupas de Jaque Monteiro e noi soul, e que merecem ser divulgadas.
ESTRUTURA
A Catadupa recebeu esse nome por se assemelhar a uma cascata ou a uma escadaria. O que confere a ela esse formato é a quantidade e a disposição específica de palavras por verso.
Em relação à quantidade de versos por estrofe
Os poemas podem ser escritos em tercetos, quartetos ou quintetos, sem número máximo de estrofes, mas com, no mínimo, duas, para se manter a estrutura típica que a caracteriza.
Catadupas com apenas duas estrofes são chamadas de Catadupinhas.
Catadupas tercetas: se o poema for em tercetos, o primeiro verso tem uma palavra, o segundo, duas e o terceiro, três.
Segue-se essa construção para os quartetos e quintetos.
Catadupas quartetas: se o poema for em quartetos: primeiro verso, uma palavra, segundo, duas, terceiro, três e quarto, quatro palavras.
Catadupas quintetas: se o poema for em quintetos: primeiro verso, uma palavra, segundo, duas, terceiro, três, quarto, quatro e quinto verso, cinco palavras.
Podem ser feitas Catadupas em sextetos (as sextetas), porém há que se ter o cuidado para que o verso fique na mesma linha, não sendo cortado e continuado na linha posterior, desconfigurando o poema.
Ainda, temos a Catadupa Mista, a qual possui três estrofes: a primeira estrofe, em tercetos, a segunda estrofe, em quartetos e a terceira estrofe, em quintetos. Caso a Catadupa Mista apresente mais de três estrofes, a estrutura descrita acima deverá se repetir (tercetos, quartetos e quintetos). Nessa configuração, não há limite de estrofes e ela passa a se chamar Catadupa Mista Emendada.
Quantidade de palavras por verso
Todas as palavras são contadas, inclusive conjunções, artigos, interjeições, contrações com apóstrofos e cada vocábulo das palavras compostas.
As letras iniciais dos versos de cada estrofe
As palavras que iniciam os versos de cada estrofe começam com a mesma letra e a escolha dessas letras são feitas da seguinte forma:
Olhe para a última palavra da estrofe. Observe com que letra ela começa. Essa será a letra inicial das palavras que iniciam os versos da próxima estrofe, e assim sucessivamente.
Observação: só não vale para a primeira estrofe, por não possuir estrofe anterior, neste caso a letra inicial dos versos desta estrofe é ditada pela letra inicial da primeira palavra do primeiro verso do poema.
Sobre as rimas
As Catadupas possuem rimas e serão escolhidas assim:
Veja a primeira palavra da estrofe. Observe como é sua terminação. Todas as rimas dos próximos versos dessa estrofe devem seguir essa terminação, ou seja, todas as palavras finais dos versos devem rimar com essa primeira palavra.
Resumindo: quando for escrever uma Catadupa, preste atenção, principalmente, ao seguinte:
· quantidade de palavras por versos;
· letra inicial das palavras iniciais das estrofes;
· rimas.
OUTRAS CARACTERÍSTICAS
O gênero possui TÍTULO, todo com letras maiúsculas, lembrando o rochedo de onde escorre a cascata de versos, pula-se uma ou duas linhas antes de começar o texto do poema.
A assinatura da autoria vem ao final, entre parênteses, não pode ser todo em caixa alta; ou se escreve como o padrão, primeiras letras maiúsculas, ou todo com letras minúsculas. Pula-se pelo menos uma linha entre o texto e o nome ao final da Catadupa.
Os versos são iniciados por letras minúsculas e não possuem pontuação ao final da linha, exceto quando for pergunta ou exclamação, ainda assim o próximo verso começará com letra minúscula, mesmo os nomes próprios, nomes de lugares etc.
Uma outra dica é a escolha das palavras e a disposição delas nos versos, de forma que o tamanho dos versos da estrofe dê a sensação de uma cascata, do menor para o maior, sempre.
Por exemplo, o segundo verso não pode ficar menor que o primeiro, ou o terceiro não deve ficar menor que o segundo.
O alinhamento do texto pode ser à esquerda (mais recomendado), centralizado ou à direita (menos indicado). Os alinhamentos à esquerda e à direita, dão a sensação de cascata lateral, já o alinhamento ao centro, dá a ideia de cascata central.
A Catadupa é ideal para construções coletivas, por não exigir limite no número máximo de estrofes.
Lembre-se de que as estrofes da Catadupa NÃO são frases picotadas em partes e nem são palavras soltas, pense no sentido, na coesão e na coerência do poema.
A seguir, nas próximas páginas, teremos alguns exemplos de Catadupas.
PATRIARCAICO
vento
voa lento
versa muda, alento
arrepia
assopra, expia
acorda essa utopia
urge
uivante, surge
urgente vem, insurge
irradia
instiga rebeldia
irrompe arcaica voivodia
(Jaque Monteiro - Catadupa em tercetos (ou Catadupa terceta))
LETRA ALUMIADA
lucivéu
listrado dossel
lusco-fusco véu
lumia palavras no papel
paridas
plurais, floridas
partenogênese de vidas
placebo das minhas feridas
flechas
furam brechas
fomentam fomes ventrechas
fiapos contorcidos em mechas
metaverso
militante verso
moldado e controverso
moldura de avesso inverso
ilumina
inócua lamparina
invoca letra menina
irrompe o casulo, agripina
(Jaque Monteiro - Catadupa em quartetos (ou Catadupa quarteta))
DOÇURAS DA PAIXÃO ESTREADA NO CAMPO
bananeira
beldade roceira
brota na ribanceira
balança ao vento, faceira
beija sorrateira, galhos de amoreira
amora
adocicada aurora
acalenta sem demora
amores agridoces estreados agora
assanhados, emergentes, urgentes toda hora
hesitantes
hígidos visitantes
húbris chamas militantes
herege fogueira dos amantes
hirta os pelos, explosões delirantes
delícia
doce blandícia
desejo saciado, carícia
delicados afagos sem malícia
dentes-de-leão, paisagem propícia
(Jaque Monteiro - Catadupa em quintetos (ou Catadupa quinteta))