Ensaio sobre a Catadupa

Ensaios | Jaque Monteiro
Publicado em 14 de Novembro de 2025 ás 22h 43min

BREVÍSSIMO ENSAIO SOBRE A CATADUPA

Jaque Monteiro

 

 

ORIGEM

 

A Catadupa é um estilo poético criado por Jaque Monteiro em torno de 2009/2010, mas só se tornou pública na primavera (setembro) de 2025.

 

PRIMEIRA GERAÇÃO DE CATADUPISTAS

 

A primeira pessoa a tomar conhecimento da Catadupa foi noi soul, que logo quis experimentar. Gostou e levou a proposta para o seu Projeto Pulsão Poética, onde mais pessoas aderiram à experiência. Foi neste momento, outubro de 2025, que nasceu a I OFICINA DE CATADUPAS DO BRASIL – 2025, uma parceria entre a criadora, Jaque Monteiro, coordenadora e ministrante da Oficina, e noi soul, que passou a ser a Madrinha da Catadupa e coordenadora da Oficina.

Com alegria destaco as primeiras e os primeiros Catadupistas do Brasil, formados nessa Oficina:

 

Adailton Lima (BA), Carlos Onkowe (SP), Eidi Martins (MT), Giovanna Barros (CE), Magno Assis (MG), Mari Rima (BA), noi soul (BA), Patuska Quokka (DF), Pedro Garrido (RJ), Renato Lannes (RJ).

 

Eles acolheram a Catadupa e produziram vários poemas, um material incrível, um acervo riquíssimo e diversificado! São as primeiras Catadupas do Brasil, depois das

Catadupas de Jaque Monteiro e noi soul, e que merecem ser divulgadas.

 

ESTRUTURA

 

A Catadupa recebeu esse nome por se assemelhar a uma cascata ou a uma escadaria. O que confere a ela esse formato é a quantidade e a disposição específica de palavras por verso.

 

Em relação à quantidade de versos por estrofe

 

Os poemas podem ser escritos em tercetos, quartetos ou quintetos, sem número máximo de estrofes, mas com, no mínimo, duas, para se manter a estrutura típica que a caracteriza.

 

Catadupas com apenas duas estrofes são chamadas de Catadupinhas.

 

Catadupas tercetas: se o poema for em tercetos, o primeiro verso tem uma palavra, o segundo, duas e o terceiro, três.

 

Segue-se essa construção para os quartetos e quintetos.

 

Catadupas quartetas: se o poema for em quartetos: primeiro verso, uma palavra, segundo, duas, terceiro, três e quarto, quatro palavras.

 

Catadupas quintetas: se o poema for em quintetos: primeiro verso, uma palavra, segundo, duas, terceiro, três, quarto, quatro e quinto verso, cinco palavras.

 

Podem ser feitas Catadupas em sextetos (as sextetas), porém há que se ter o cuidado para que o verso fique na mesma linha, não sendo cortado e continuado na linha posterior, desconfigurando o poema.

 

Ainda, temos a Catadupa Mista, a qual possui três estrofes: a primeira estrofe, em tercetos, a segunda estrofe, em quartetos e a terceira estrofe, em quintetos. Caso a Catadupa Mista apresente mais de três estrofes, a estrutura descrita acima deverá se repetir (tercetos, quartetos e quintetos). Nessa configuração, não há limite de estrofes e ela passa a se chamar Catadupa Mista Emendada.

 

Quantidade de palavras por verso

 

Todas as palavras são contadas, inclusive conjunções, artigos, interjeições, contrações com apóstrofos e cada vocábulo das palavras compostas.

 

As letras iniciais dos versos de cada estrofe

 

As palavras que iniciam os versos de cada estrofe começam com a mesma letra e a escolha dessas letras são feitas da seguinte forma:

 

Olhe para a última palavra da estrofe. Observe com que letra ela começa. Essa será a letra inicial das palavras que iniciam os versos da próxima estrofe, e assim sucessivamente.

Observação: só não vale para a primeira estrofe, por não possuir estrofe anterior, neste caso a letra inicial dos versos desta estrofe é ditada pela letra inicial da primeira palavra do primeiro verso do poema.

 

Sobre as rimas

 

As Catadupas possuem rimas e serão escolhidas assim:

Veja a primeira palavra da estrofe. Observe como é sua terminação. Todas as rimas dos próximos versos dessa estrofe devem seguir essa terminação, ou seja, todas as palavras finais dos versos devem rimar com essa primeira palavra.

 

Resumindo: quando for escrever uma Catadupa, preste atenção, principalmente, ao seguinte:

 

·      quantidade de palavras por versos;

·      letra inicial das palavras iniciais das estrofes;

·      rimas.

 

OUTRAS CARACTERÍSTICAS

 

O gênero possui TÍTULO, todo com letras maiúsculas, lembrando o rochedo de onde escorre a cascata de versos, pula-se uma ou duas linhas antes de começar o texto do poema.

 

A assinatura da autoria vem ao final, entre parênteses, não pode ser todo em caixa alta; ou se escreve como o padrão, primeiras letras maiúsculas, ou todo com letras minúsculas. Pula-se pelo menos uma linha entre o texto e o nome ao final da Catadupa.

 

Os versos são iniciados por letras minúsculas e não possuem pontuação ao final da linha, exceto quando for pergunta ou exclamação, ainda assim o próximo verso começará com letra minúscula, mesmo os nomes próprios, nomes de lugares etc.

 

Uma outra dica é a escolha das palavras e a disposição delas nos versos, de forma que o tamanho dos versos da estrofe dê a sensação de uma cascata, do menor para o maior, sempre.

Por exemplo, o segundo verso não pode ficar menor que o primeiro, ou o terceiro não deve ficar menor que o segundo.

 

O alinhamento do texto pode ser à esquerda (mais recomendado), centralizado ou à direita (menos indicado). Os alinhamentos à esquerda e à direita, dão a sensação de cascata lateral, já o alinhamento ao centro, dá a ideia de cascata central.

A Catadupa é ideal para construções coletivas, por não exigir limite no número máximo de estrofes.

 

Lembre-se de que as estrofes da Catadupa NÃO são frases picotadas em partes e nem são palavras soltas, pense no sentido, na coesão e na coerência do poema.

 

A seguir, nas próximas páginas, teremos alguns exemplos de Catadupas.

 

PATRIARCAICO

 

vento

voa lento

versa muda, alento

 

arrepia

assopra, expia

acorda essa utopia

 

urge

uivante, surge

urgente vem, insurge

 

irradia

instiga rebeldia

irrompe arcaica voivodia

 

(Jaque Monteiro - Catadupa em tercetos (ou Catadupa terceta))

 

LETRA ALUMIADA

 

lucivéu

listrado dossel

lusco-fusco véu

lumia palavras no papel

 

paridas

plurais, floridas

partenogênese de vidas

placebo das minhas feridas

 

flechas

furam brechas

fomentam fomes ventrechas

fiapos contorcidos em mechas

 

metaverso

militante verso

moldado e controverso

moldura de avesso inverso

 

ilumina

inócua lamparina

invoca letra menina

irrompe o casulo, agripina

 

(Jaque Monteiro - Catadupa em quartetos (ou Catadupa quarteta))

 

DOÇURAS DA PAIXÃO ESTREADA NO CAMPO

 

bananeira

beldade roceira

brota na ribanceira

balança ao vento, faceira

beija sorrateira, galhos de amoreira

 

amora

adocicada aurora

acalenta sem demora

amores agridoces estreados agora

assanhados, emergentes, urgentes toda hora

 

hesitantes

hígidos visitantes

húbris chamas militantes

herege fogueira dos amantes

hirta os pelos, explosões delirantes

 

delícia

doce blandícia

desejo saciado, carícia

delicados afagos sem malícia

dentes-de-leão, paisagem propícia

 

(Jaque Monteiro - Catadupa em quintetos (ou Catadupa quinteta))

 

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