Em Nome do Servidor Público
Prosa Poética | Carlos Roberto RibeiroPublicado em 28 de Outubro de 2024 ás 10h 19min
No silêncio das cidades, antes que o sol nasça, há passos que ecoam pelos corredores do serviço público. Somos homens e mulheres invisíveis à rotina alheia, mas cuja presença firma os pilares de uma sociedade. Não buscamos aplausos, sequer o brilho dos holofotes; buscamos, em cada ato, a dignidade de servir. Carregamos nos ombros o peso das palavras gravadas na Constituição, de leis que mantêm a justiça e a igualdade ao alcance de todos. E, ao fim de cada jornada, deixamos uma marca de zelo onde muitos enxergam apenas a burocracia.
Mas o que somos nós, servidores públicos, senão uma ponte entre o cidadão e o direito? Enquanto a sociedade aplaude o imediatismo, persistimos na regularidade do ofício, na delicadeza do procedimento, na exigência do cumprimento. Guardamos a legalidade, mas, antes de tudo, somos humanos — capazes de pensar, de sonhar, de acreditar que nosso trabalho é para o bem de todos.
Entretanto, no centro dessa missão, a desvalorização nos atinge de forma mais profunda. Ela não vem só da população, mas do próprio poder público, que tantas vezes projeta sobre nós uma sombra de desconfiança, manipula a opinião com narrativas que desfazem a imagem do serviço e de quem o executa. Tornamo-nos, assim, alvo de olhares frios, de um estigma injusto que encobre nossa essência e esforço, levando ao desgaste da relação entre quem serve e quem é servido.
Essa invisibilidade cobre nossos desafios de uma carga ainda mais pesada. A desvalorização ecoa nas salas vazias de reconhecimento, nas gavetas lotadas de burocracia, nos rostos exaustos por um apoio que não chega. A alta rotatividade traz novos colegas, mas dilui a memória de quem constrói dia a dia a essência do cargo público, transformando em bruma o conhecimento que tanto custou a ser lapidado. E há o desperdício, que assistimos impotentes, enquanto os recursos evaporam sem cumprir seu destino.
A saúde mental e física sofrem as consequências de um desgaste cotidiano. Expostos ao peso das expectativas, ao trabalho árduo e à falta de amparo, nossa mente e nosso corpo são forjados em um esforço que, se fosse valorizado, floresceria ainda mais. Sabemos que na valorização do nosso trabalho, brotariam a eficiência, o respeito, a criatividade, a confiança em uma carreira onde o talento é bem-vindo, onde a diversidade encontra espaço, onde a colaboração é a regra e a permanência dá frutos.
Que seja o Dia do Servidor uma celebração de cada esforço, de cada gesto que sustenta a máquina do bem comum. Porque, ao final de tudo, é para a sociedade que nos levantamos, enfrentamos o dia, entregamo-nos. E é nela, na grande beneficiária, que repousa a essência de nossas lutas e vitórias. Que o público a quem servimos veja, admire e valorize, pois, em seus olhos, reflete-se o destino do serviço público.