Você diz que sou seu antibiótico,
Que eu tenho efeitos colaterais,
Mas volta sempre, quase hipnótico,
Mesmo sabendo que eu trago sinais.
Sou cura amarga em dia febril,
Sou dose certa que vira veneno,
Te anestesio num beijo sutil,
Depois te deixo um vazio imenso.
Você me toma sem prescrição,
Mistura loucura com obsessão,
E mesmo após cada reação,
Volta com sede por mais paixão.
Sou aquele vício que não se trata,
Que arde, alivia, mas não se mata
E você insiste em me consumir,
Sabendo que pode não resistir.
Sou bula escrita em contradição,
Com advertência em cada verso,
Mas você ignora a precaução
E mergulha em meu universo.
Não sou farmácia, nem salvação,
Sou tempestade em forma de alívio,
Entre os lençóis, tua perdição,
Teu sintoma mais recorrente e ativo.
E se um dia eu for contraindicada,
Se o coração pedir suspensão,
Você vai lembrar da madrugada
Em que me tomou sem proteção.
Sou o remédio e também a ferida,
Teu alívio breve, tua recaída,
O risco impresso na tua receita,
A dor que beija e nunca se deita.
E quando enfim te vires curada,
Vai perceber — tarde demais, talvez
Sem febre, sem dor, sem vício,
Que fui a cura... só por um mês.
Mas fui também tua febre mais bela,
Teu caos com gosto de aquarela,
E mesmo com todos os sinais,
Você vai querer... efeitos colaterais.