DONA FLOR MADRILENHA

Contos | Lorde Égamo
Publicado em 05 de Abril de 2022 ás 16h 30min

Dona Flor Madrilenha!

Paloma estava no Aeroporto Internacional Adolfo Suárez, em Madri. Fazia uma viagem solitária, internacional, porém costumeira, quando foi abordada por agentes da guarda aduaneira espanhola, o que corresponde à nossa Polícia Federal.

Todos os passageiros são discretamente inspecionados ao passarem por uma esteira onde as câmeras atuam, mas quando, por qualquer razão algum agente percebe algo que ele julgue incomum, separa aquela pessoa que fica temporariamente impedida de prosseguir em sua viagem, salvo possa  comprovar sua lisura.

Ali estava aquela moça que, não se sabe a razão, foi retirada da esteira e juntou-se a outros viajantes, também escolhidos, separados da esteira. Todos, exceto ela, se mostravam agitados, nervosos, por certo tinham algo a esconder. Algumas pessoas tentam esconder o que trazem de fora, outras querem esconder o que lá fora foram fazer ou o que trazem consigo.

É comum encontrar coisas, objetos, mercadorias proibidas, nos pertences, como contrabando, drogas, entre outras, daí os produtos são apreendidos e posteriormente incinerados. Não é necessário dizer que os portadores perdem tudo e ainda, conforme a situação, passam a responder algum processo na esfera do Direito Internacional e Criminal.

Às vezes alguns tentam entrar ilegalmente no país com documentos falsos, adulterados, e declaram perseguição em seu país de origem e pedem asilo político, outros aparecem com crianças sem a devida autorização do outro cônjuge, quando são devidamente deportados e submetidos às leis do país de origem.

Nessas ocasiões a revista é geral, desde malas, mochilas, bolsas, roupas, e até o próprio corpo da pessoa que é submetido a um Raio X, onde é inteiramente radiografado e, caso haja algo ilegal é detectado.

Há casos de produtos oriundos de roubo que são pegos nessa revista.

Há também inúmeros casos de droga tentando ser introduzida no país ou dele sair, são as chamadas “mulas” e são devidamente interceptadas. Os traficantes agem das mais variadas formas para tentar enganar as autoridades, seja dentro da mala, diluída numa bebida, num frasco de perfume, remédios, sucos, nas paredes internas das malas, mochilas, maletas, impregnadas nas roupas, ou mesmo, os mais audazes, no próprio corpo, colado nas pernas ou abdômen, com fitas adesivas outros nas partes íntimas ou até mesmo ingerido em forma de capsulas. Para esses tontos não há perdão. São interrogados, pois a polícia tenta descobrir, tanto o traficante que está enviando quanto o receptor, mas não consegue descobrir. Os interrogados se calam e sofrem as consequências sozinhos. A droga é confiscada e pesada. O peso da droga determinará a pena, de acordo com as leis de cada país, podendo ir de cinco a quinze anos de cadeia. Em algumas plagas, como China, Indonésia, entre outros países, existe a pena de morte para casos tais.

Paloma observava tudo, mas nada a constrangia, nada a tirava de seu bom humor, inclusive lia um bom livro, “As Sandálias do Pescador” de Morris West.

Os agentes, intrigados a observavam e ficaram curiosos diante de tamanha frieza. Ali estava Paloma, como se estivesse em casa, como se estivesse numa sala vip.

Finalmente chegou sua vez. Foi chamada para a revista corporal, feminina, raio X e nada foi detectado. Os policiais ordenaram que abrisse as malas e expusesse tudo para ser examinado. Ela, sem contestar cumpriu a determinação, conforme era solicitado com a maior franqueza e até um breve riso saía de seus lábios, como que achando graça em tudo aquilo. Nada de irregular foi encontrado. Então os servidores resolveram examinar os documentos e verificaram que a jovem era de nacionalidade espanhola, mas em seu passaporte  vários vistos eram constatados e perguntaram a razão de tantos vistos recentes e o porquê de não desembarcar em seu país, visto ter vindo do exterior, ao que ela respondeu: Sou espanhola, minha residência é aqui, no bairro El Retiro. Vim das Bahamas, onde fiquei vinte dias com meu namorado, mas antes estive no Brasil, no Rio de Janeiro, onde fiquei duas semanas com meu namorado brasileiro.”  Foi um “oh” geral. Todos boquiabertos diante da revelação. Antes que os agentes dissessem qualquer palavra ou tecessem qualquer comentário ela continuou: Agora estou a caminho de Edimburgo, na Escócia, onde vou passar quinze dias com meu namorado escocês, depois volto e vou reencontrar meu maridinho, de quem estou morrendo de saudades” a gargalhada foi uma só e intensa!

Paloma foi liberada e seguiu seu destino, pois este comportamento esdrúxulo, inusitado, reprovável por todos nós, apesar de toda sua excentricidade,  não é tipificado como crime no código penal, nem no Brasil, nem na Espanha!

 

                                                      

Comentários

Sua Paloma excêntrica levava um produto diferenciado. Tinha motivos para rir despreocupada e feliz. Rsss. Amei... Parabéns escritor.

Iziz | 06/04/2022 ás 07:31 Responder Comentários

Nossa, meu amigo! A sua Paloma é envolvente do início ao fim. Parabéns pelo escrito!

Ingrid Mohr | 07/04/2022 ás 21:21 Responder Comentários

Conto interessante! Narra uma rotina, imbuído da graça de uma jovem que usa sua liberdade de viver relacionamentos, sem se importar com moral, leis...

Maria da Conceição Mainart da Silva | 10/04/2022 ás 06:31 Responder Comentários

Dona Flor e seus tantos namorados e marido, nos ensina que “O amor, antes de tudo, não é o que se chama entregar-se, confundir-se, unir-se a outra pessoa […] O amor é uma ocasião sublime” Amor por muito tempo e pela vida afora, é solidão. Ótimo. Parabéns Poeta !

Ruth Lima | 30/08/2023 ás 20:27 Responder Comentários

Ô LÔCO, MEU!! (Como diria o Faustão) rsrs - Essa é ocupadíssima hein.... "Amor" ou promiscuidade...rs

João Batista | 30/08/2023 ás 20:44 Responder Comentários

Quanta ousadia da D. Paloma!!

Liliane | 30/08/2023 ás 20:44 Responder Comentários

Paloma vive como se não houvesse amanhã!

Raquel Breviglieri | 31/08/2023 ás 06:35 Responder Comentários
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