Do Concreto à Terra Vermelha
Contos | Metade Dita, Metade Sentina : Contos. crônicas, cartas, poemas e confissões que talvez fossem suas. | Silvia Dos Santos AlvesPublicado em 13 de Maio de 2025 ás 15h 04min
O ano era 1985. A estrada de terra se estendia sem fim, serpenteando entre matas cerradas e campos solitários. O sol se despediu lentamente no horizonte, e a noite caiu densa, abraçando aquele pedaço esquecido do Mato Grosso. A chuva escorria pelo teto do caminhão de mudança, misturando-se à escuridão silenciosa, carregada de mistério.
Era um lugar bruto, ainda por moldar—sem luz elétrica, sem telefone, sem hospital. As únicas construções que rompiam a vastidão eram um mercadinho de prateleiras modestas e um pequeno boteco, onde se vendiam ovos, mantimentos básicos e produtos que chegavam esporadicamente. Tudo ali exigia esforço. Mas, ao mesmo tempo, tudo era novo.
Não havia escola. Apenas um terreno vazio, cercado pelo mato, esperando por mãos que o transformassem em um espaço de aprendizado. Quando a construção começou, foi como um espetáculo para a cidadezinha. O som das marteladas ecoava pelo ar, anunciando que, pouco a pouco, o progresso dava seus primeiros passos. Quando a escola finalmente ficou pronta, parecia que toda a comunidade havia avançado junto.
No recreio, sem brinquedos modernos, nos balançávamos nos cipós pendurados nos galhos fortes, soltando risadas e desbravando pequenas aventuras. Não havia praça, padaria, nem as facilidades da cidade grande, mas, dia após dia, tudo tomava forma. Cada nova casa representava uma conquista. Cada chegada de vizinhos, um novo sopro de esperança. As famílias se uniam, compartilhavam histórias e dividiam o pouco que tinham. A terra, áspera e generosa, ensinava a todos que ali o futuro se moldaria com esforço e coragem.
E assim foi. Entre desafios, noites escuras, chuvas inesperadas e cipós balançando ao vento, começamos a escrever uma nova história naquele pedaço esquecido do Mato Grosso.
Livro: FRAGMENTOS DO PASSADO