Desapego
A caminho, conversando, a companhia era agradável,
porém, em seu pensamento, muitas coisas iam se passando.
O lugar não havia mudado,
parecia ser o mesmo, as mesmas cercas
que protegiam os animais.
As frutinhas no meio do caminho
alimentavam ainda mais o anseio
de rever aquele lugar onde tantas dificuldades enfrentou,
mas também viveu muitas diversões, brincadeiras, traquinagens e aventuras.
Atentamente, observava a paisagem.
Podia sentir a brisa em seu rosto, o vento em seu cabelo.
Ao longe, avistou a mesma porteira rústica que cercava a entrada.
O coração acelerou ao perceber que pouca coisa havia mudado.
Os pés de frutas nativas estavam carregados, porém verdes. Não provou.
Só mais alguns passos e estaria onde seu nome foi escolhido,
onde seus dias foram doídos, mas também divertidos.
A casa não existia mais.
O coração, apertado no peito, quer ser forte, porém não tem jeito.
Uma enxurrada de nostalgia invade seus pensamentos.
As lembranças tomam seu ser:
a horta, o curral, as flores,
a casinha onde armazenávamos nossos mantimentos.
Tudo retorna agora, trazendo uma mistura de saudade, dor e desapego,
que, em silêncio, ela absorve.
Ah... o grande pé de araucária não estava mais ali,
nem o pé de ameixa,
muito menos seu preferido, o pé de amora.
Então, ela se senta sobre um pequeno resquício e desaba.
As lágrimas escorrem pelo rosto,
as palavras somem, dá para ouvir as batidas do coração.
Por alguns minutos, ela apenas respira,
olha e exala o cheiro dos eucaliptos,
que reinam onde, um dia, foi seu lugar de criação.
Rose Correia.