Noite de sexta. O casal da mesa ao lado conversa num clima gostoso, tão divertido que eu demorei a perceber que existe neles certa falta de entrosamento. É um primeiro encontro do Tinder, eu aposto. O lugar, a posição em que estão sentados, os olhares, tudo indica que resolveram dar uma chance um ao outro depois de semanas a fio de conversas tolas. 

Celulares guardados, os dois estão na parte em que se resumem as histórias de vida e conta-se um pouco de como chegaram ali. Mentem ou exageram sobre os ex-amados, fingindo não sentir aquela gota de mágoa ou remorso ao recontarem o motivo de os relacionamentos não terem prosperado. Mas, se agora a conversa é de longos sorrisos, no fim das contas, ainda existe esperança para o mais novo par. 

Ele quase não toca na cerveja e parece mesmo encantado com a jovem à sua frente. Ela, trajada com um vestido que comprou só para esse momento, reparou que o rapaz é mais alto do que sugeriam as fotos e, sem dúvidas, bonito. Agradou-se. 

Após o jantar razoavelmente caro, pago por ambos, eles se levantam e caminham até um cantinho ornamentado na entrada do restaurante. O constrangimento é de um casal de adolescentes que quer muito se beijar, mas não sabe como. Ele chega mais perto da moça, diz algumas palavras e a beija na boca, sentindo as mãos dela tocarem suavemente seu rosto, como que num gesto de retribuição. Match! 

Dali, apanham um Uber e vão em busca de um lugar onde possam ser um do outro, pelo menos por uma noite. Mas vai haver outro encontro. E outro, e outro; até estarem juntos de vez. 

Então, passados alguns anos, a rotina chegará – com ou sem filhos. E é aí, que, na mesa de um restaurante caro, numa sexta qualquer, eles viverão outros encontros, com outras pessoas, para quem vão estar mentindo ou exagerando um sobre o outro. Contando, de novo, o porquê de o relacionamento não ter prosperado – um mergulhado em mágoa e o outro, em remorso.