De pago a pago
Poemas | Antologia Clube da poesia e declamação gaúcha | Clair kurzPublicado em 29 de Outubro de 2025 ás 22h 27min
**De Pago a Pago
Sou filha do vento minuano,
de onde o mate fumaça
nas manhãs frias...
e o pingo pisa firme o campo aberto.
Mas trago nos olhos a sina andeja,
de cruzar fronteiras sem sair do peito,
levando o Rio Grande comigo,
numa mala de esperança e saudade.
No Sul, a querência é um canto antigo,
o churrasco fuma lento, a gaita chora,
e a alma se reconhece no abraço
de quem vive simples, mas de coração largo.
Rumo ao Sudeste, o batuque do samba me recebe,
nos becos do Rio a viola faz morada,
e em Minas, cada igreja é poesia de pedra, com pão de queijo que consola
até mesmo a solidão de um gaúcho longe da estância.
Subindo o trote, chego ao Nordeste, onde o forró é fogo na sanfona,
e o sertão guarda guerreiros de coragem,
cabras fortes como tronco de aroeira,
e mares que beijam a lua com saudade.
No Centro-Oeste, o cerrado se abre em flor,
os ipês amarelos brilham como ouro,
e o gado pasta sob o céu sem fim,
num silêncio quebrado apenas pelo berrante que chama o destino.
No Norte, a Amazônia é mistério e reza,
rio sem fim que parece oceano de dentro,
e cada árvore é guardiã de segredos,
onde o canto dos pássaros lembra que o Brasil é maior do que os mapas dizem.
E assim...
de chão em chão, de canto em canto...
descubro que cada região é um mate distinto,
um sabor que aquece de jeito diferente.
Mas em todas, há um mesmo fogo,
feito de luta, de música e de fé.
Sou gaúcha, sim, mas acima de tudo,
sou Brasil de ponta a ponta, com alma que dança vaneira,
mas também canta baião, samba e toada.
Porque o pago verdadeiro, tchê,
não tem cerca nem porteira:
é esse Brasil inteiro,
que mora no peito da gente. ??????