DE GUARIDA
Poesias Gaúchas | Antologia Clube da poesia e declamação gaúcha | Kaco AndradePublicado em 29 de Outubro de 2025 ás 15h 12min
A alma triste pairava
Tenteando rumos de volta
O vento guardava de escolta
Os olhos que a dor bombeava
Qualquer repouso bastava
Qualquer sentido queria
Tropeando rumo e valia
Que a vida dura negava
Andejou anos a fio
Passou e pairou no tempo
Viu na distância o alento
Pra tanta dor que sentiu
Se a vida lhe foi desafio
Esta não lhe negou tino
Moldando em forja o destino
Desde o dia em que partiu
Levou consigo à vontade
De todo aquele que sai
Ouvindo a voz de seu pai
Quando batia a saudade
-se te trucar a maldade
Retruca, e dobra a quebrada
Valha quatro está parada
Pra ter tua liberdade
Andou sem rumo, nem norte
Mendigando bem querenças
Emoldurando as ausências
Pra despojar sua sorte
Enrijeceu, criou porte
Endureceu com o tempo
Plantando em cada momento
Sentido de ser mais forte
Mas cansou de andejar
Sem saber pra onde ir
Sem vontades de partir
Nem ter pra onde voltar
Então se fez repousar
No que lhe restou da vida
Montando posto e guarida
Num verde e sereno olhar
Se armou de amor e beleza
E os sonhos, antes quimera
Floresceram em primaveras
Num meigo olhar de certezas
Adoçou sua tristeza
No sabor doce de um beijo
E sofrenou seus desejos
Pra transpor sua natureza
Hoje não anda sozinho
E tem pra onde voltar
E quando sai pra tropear
Sofre ao deixar seu ranchinho
E volta assoviando baixinho
Solfejando pela estrada
Coplitas enamoradas
Pra alegrar seu caminho.