Cultura em Sampa

Crônicas | ROSANA LESCANO
Publicado em 14 de Maio de 2022 ás 12h 11min

Cultura em Sampa

Eu adoro viajar, e você? Como é gostoso pegar o carro, o trem ou um avião e poder realizar grandes aventuras por aí. Muitas vezes nem é preciso ter muito dinheiro. Basta fazer algumas pesquisas, escolher um lugar maravilhoso e partir para o desconhecido.

Meus sobrinhos, moradores do interior de Minas Gerais, tiraram férias e vieram passar uns dias em minha casa. Não tínhamos condições de viajar para outros lugares naquele momento, então resolvi olhar o guia cultural de São Paulo e me deparei com lugares fantásticos, muitos deles, desconhecidos por mim, e olha que sou moradora daqui desde que nasci e descubro que não conheço muita coisa da cidade, apesar de viver nas proximidades.

As vezes buscamos conhecimento e divertimento longe de onde moramos e mal sabemos que bem perto de nós, podemos encontrar grandes tesouros.

Percorrendo a internet em busca de um lugar diferente para passear num sábado à tarde, encontro vários museus, shoppings, praças, parques. O que não faltam são lugares culturais para passear em São Paulo.

Fico atenta aos comentários e vejo dicas de algumas pessoas, mas o que realmente me interessou foi o Museu de Arte de São Paulo, o Masp.

O Masp foi construído em 1947, primeiramente instalado na Rua Sete de Abril, no centro da cidade e depois transferido para a Avenida Paulista, uma das avenidas mais famosas de SP. Ele foi fundado pelo empresário Assis Chateaubriand. É um museu privado, sem fins lucrativos. Lina Bo Bardi foi a responsável pelo projeto arquitetônico arrojado do local.

Pronto. Escolhido. O Masp será o local para o passeio em família no próximo sábado.

Entro no site do museu e procuro se há alguma exposição em cartaz.  Além da mostra de longa duração de seu Acervo em transformação na pinacoteca, realizava-se a exposição da Tarsila do Amaral, paulista de Capivari, participante do Modernismo e que fazia parte do chamado “grupo dos cinco”, formado por ela, Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia.

Como não íamos amar essa exposição?

Ingressos adquiridos, partimos eu e minha família para o Masp.

Como não moramos na capital, precisávamos nos deslocar de trem até a Avenida Paulista e isso foi extraordinário, pois meus sobrinhos nunca haviam andado de trem.

Vocês devem estar se perguntando: nunca andaram de trem? Não, e para quem nunca andou, é uma grande aventura.

As crianças acharam muito interessante a distribuição dos bancos e a parada em cada estação. O trem estava vazio, o que ajudou na observação da paisagem ao longo do caminho. Com seus celulares em mãos tiravam fotos de tudo que achavam interessante.

Descemos na estação Tamanduateí para pegar o metrô e finalmente descer na Estação Trianon-Masp, a mais próximo do Museu.

Se meus sobrinhos amaram o trem, imagina andar de metrô! Acharam o máximo e ficaram admirados que o mesmo ticket usado no trem, servia para o outro transporte.

O deslumbramento com a Avenida Paulista foi nítido. Impossível não se apaixonar e ficarmos extasiados com suas construções e modernidade.

O prédio do Masp, cercado por vidros e concreto, trazia uma mistura de aspereza e leveza. Se pelo lado de fora entrávamos em êxtase, já imaginávamos como seria dentro, observando e contemplando as obras de Tarsila do Amaral.

Pegamos uma pequena fila e logo entramos no local da exposição. Eu já conhecia outros museus e já havia ido a outras exposições, mas minha família não, então cada detalhe para eles fazia muita diferença.

O fato de aprendermos que Tarsila tinha um papel muito importante para a Arte brasileira, nos fez refletir sobre nosso papel como cidadãos. O que fazemos por nosso país?

Ela deixou claro em suas telas o valor do trabalho, a paixão pela nossa cultura e nossas raízes.

Tornou-se uma referência para a criação da Antropofagia modernista brasileira.

Na sua tela mais famosa, O Abapuru, cujo nome de origem indígena significa "homem que come carne humana", a artista representou parte do seu imaginário infantil, das lembranças de histórias fantásticas, de monstros, que contavam suas cuidadoras em sua infância, e que estavam relacionadas com homem que come carne humana, o antropófago. Essa tela é a que as crianças mais gostaram, pois disseram que já a conheciam pelos livros didáticos da escola.

Através de suas cores vivas pintou um Brasil, com cara de Brasil, retratou o trabalho, o povo, os seus costumes. Abordou temas sociais, do cotidiano e paisagens brasileiras.

Se Tarsila vivesse nos dias atuais com certeza pintaria a Avenida Paulista, pintaria a bela São Paulo, pincelaria em sua tela a movimentada e colorida vida na cidade, o agito e as luzes, as construções modernas e o asfalto quente, a dura poesia concreta das esquinas, como já dizia Caetano Veloso.

A experiência de estar no Masp vendo obras de uma grande artista brasileira fez valer o nosso sábado, principalmente nos fez refletir sobre o cotidiano e nos transportou a um Brasil passado. História.

Quem sabe essa vivência possa ser o início de outras férias, outros encontros culturais. Outros momentos de amor em família e despertar para o conhecimento.  Por mais dias assim...

 

 

 

 

 

 

Comentários

Mui delicioso seu relato em forma de crônicas! Sou grato a você pois seu texto proporcionou a mim uma viagem no tempo e relembrar meus tempos de menino nas ruas de São Paulo, quer tenha sido de trem, ônibus ou chocando bonde! Que tempo maravilhoso! Obrigado por avivar minha memória! Parabéns!

Enoque Gabriel | 14/05/2022 ás 17:57 Responder Comentários

Obrigada, poeta Enoque. Que delícia seu comentário e que bom que te fiz recordar de coisas boas! Um abraço

Enoque | 14/05/2022 ás 18:18 Responder Comentários
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