Crônicas de uma paciente psiquiátrica - IV Capítulo
Crônicas | Priscila RapachiPublicado em 03 de Fevereiro de 2024 ás 18h 02min
A ALTA
A alta era o momento mais esperado para mim. A cada consulta eu questionava, doutor quando vou poder parar? Ah, os efeitos colaterais são chatos demais. Ele sempre respondia que ia demorar e que não era para ter pressa. Cumpria todas as recomendações e me perturbava o fato de me sentir mal quando esquecia de tomar. Em questão de horas, surgia dor de cabeça, tontura, e na hora eu lembrava que havia esquecido.
Por vezes fiquei triste e sem esperança pensando que nunca me livraria daquele companheiro. Mas em alguns meses de tratamento, estabilizei e iniciamos o desmame, nome horroroso, por sinal. A medicação foi diminuída gradativamente e tive que lidar com o efeitos da abstinência que passava em poucos dias.
O fator mais importante é administrar os sinais que o corpo e a mente dão de que não está tudo bem, tirar um tempo para fazer coisas tranquilas, apreciar o belo e a própria companhia, ter um pouco de tédio às vezes e não se deixar atropelar pelas demandas infinitas que o mundo moderno nos impõe.