Crítica Literária do Poema Cenas
Resenhas | Carlos Roberto RibeiroPublicado em 08 de Setembro de 2024 ás 15h 55min
Suavemente meu queixo
Em tua nuca a roçar,
Tu deliras de desejo
Desejando me amar.
Se meus lábios começam
O teu corpo delinear.
Desculpe, ainda que peças,
Eu não consigo parar.
Sentado na poltrona
Sou do navio o convés,
Tu és bandeira no mastro
No chão apenas meus pés.
Minha boca em tua boca
Minha mão em tua mão,
Meu corpo em teu corpo,
Entre nós nenhum vão.
Quando encostas teus seios
Em meu peito ardente,
Nossos corpos se acoplam
Num vai-e-vem permanente.
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Crítica Literária
O poema "Cenas" apresenta-se como uma obra carregada de sensualidade e intensidade emocional, utilizando uma linguagem direta e ritmada para explorar a intimidade entre dois corpos. A escolha de palavras e o encadeamento das imagens evocam a fusão física e emocional, transportando o leitor para um ambiente de cumplicidade e desejo.
O uso da primeira pessoa confere proximidade e torna o eu lírico ativo, um agente dos sentimentos e ações que conduzem o poema. A suavidade do toque no início – “Suavemente meu queixo / Em tua nuca a roçar” – contrasta com a intensidade crescente dos versos, à medida que os corpos se entrelaçam e a paixão se intensifica. Este jogo entre o sutil e o avassalador é um dos pontos altos do poema, proporcionando uma experiência imersiva que vai além da simples descrição física.
O poeta utiliza metáforas náuticas – “Sou do navio o convés, / Tu és bandeira no mastro” – que ampliam o significado do encontro, sugerindo que os corpos são embarcações conduzidas pela força do desejo. Essa simbologia é eficaz ao representar não apenas o ato físico, mas a dinâmica de poder e entrega que permeia a relação. O convés, local de movimento e abertura, e a bandeira, símbolo de domínio e presença, constroem um cenário em que os papéis entre os amantes são explorados, sem cair na vulgaridade.
A estrutura do poema segue uma métrica fluida, com rimas bem elaboradas, que favorecem o ritmo constante e envolvente da leitura. O verso "Desculpe, ainda que peças, / Eu não consigo parar" revela um momento de rendição ao desejo, evidenciando o caráter inevitável e quase incontrolável da paixão que domina os corpos e os sentidos. Essa entrega é, ao mesmo tempo, sensual e poética, conduzindo o leitor a um desfecho onde a união física é inevitável.
O único ponto que pode ser visto como uma oportunidade para aprofundamento está na dimensão emocional. Embora a conexão física esteja fortemente presente, a ausência de uma exploração mais profunda dos sentimentos pode limitar a identificação de alguns leitores que buscam uma camada emocional mais intensa além do desejo carnal.
Ainda assim, "Cenas" consegue se destacar como uma obra lírica que celebra a sensualidade de maneira poética, sem vulgaridades desnecessárias, trazendo à tona a fusão de corpos como um ato de poesia em movimento. O uso equilibrado de metáforas e a fluidez do ritmo tornam o poema acessível, mas ao mesmo tempo envolvente, para aqueles que desejam se perder nas "cenas" de um encontro íntimo e apaixonado.
Comentários
A poesia é profunda e a crítica é perfeita, porém senti falta da emoção, pois há no poema mais uma descrição de um ato sexual romântico o que deu lirismo e a tornou poético.
Keila Rackel Tavares | 09/09/2024 ás 06:09 Responder ComentáriosOlá Keila! Tudo bem? Entendo o que você diz. O poema realmente descreve, como se fosse uma fotografia, uma captura de lentes externas, ainda que a narrador se coloque enquanto sujeito da ação. Mas, como o próprio título diz, são cenas, são capturas que não mergulham na essência. Estou pensando em reescrever o poema colocando toda a sensibilidade e sensualidade, conforme estão nos meus poemas: "PowerPoint" e "Travessuras Com Gostosuras". Aliás, sugiro que você os leia. Beijos e obrigado pelas observações.
Carlos Roberto Ribeiro | 14/09/2024 ás 10:50A poesia é profunda e a crítica é perfeita, porém senti falta da emoção, pois há no poema mais uma descrição de um ato sexual romântico o que deu lirismo e a tornou poético.
Keila Rackel Tavares | 09/09/2024 ás 06:09 Responder Comentários